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A Polícia Federal se torna dócil ao Palácio do Planalto

Grupo de delegados da PF reage a movimentos políticos do diretor-geral, Fernando Segovia, em favor do presidente Michel Temer
>>Trecho de reportagem de capa de ÉPOCA desta semana
ÉPOCA – Bela Megale, Aguirre Talento e Thiago Herdy com Chico Otávio Débora Bergamasco
Não houve Carnaval para os 12 delegados da mais seleta equipe da Polícia Federal. Eles compõem o Grupo de Inquéritos do Supremo, conhecido internamente como Ginq. São os responsáveis por investigar os tubarões da política nacional, aqueles que têm foro no Supremo Tribunal Federal (STF). Passaram o feriado trocando mensagens. Não planejavam mais uma operação secreta da Lava Jato. Tentavam entender se estavam diante do que aparentava ser uma operação contra eles, contra a Lava Jato – uma sabotagem que vinha, inacreditavelmente, de dentro da Polícia Federal.
Expressavam espanto e perplexidade em face da desastrosa entrevista do chefe deles à agência Reuters, dias antes. Nela, Fernando Segovia indicara que a principal investigação em curso na PF – um inquérito sigiloso contra o presidente da República, autorizado pela Suprema Corte – seria arquivada por falta de provas.
Como precisava eliminar qualquer dúvida sobre a firmeza de sua genuflexão ao Planalto, Segovia dissera que o delegado responsável pelo caso poderia ser punido: as perguntas que ele enviara ao investigado Michel Temer não haviam agradado – por que será? – ao presidente Michel Temer. Não pareciam declarações do chefe da máquina de investigação mais formidável e independente do país.
Pareciam, em seu conjunto, uma declaração de lealdade ao presidente da República; uma declaração de um vassalo político, não de um diretor da Polícia Federal.
Os delegados do Ginq constituem a turma diretamente prejudicada pelas afirmações de Segovia. É um dos delegados desse grupo que toca o inquérito contra Temer e que poderia, no entendimento do chefe da PF, ser punido por fazer seu trabalho. As mensagens entre eles se intensificaram conforme a repercussão da entrevista se fazia sentir no poder e fora dele.
Na tarde da Quarta-Feira de Cinzas, os 12 delegados do Ginq se reuniram secretamente em Brasília, fora da sede da Polícia Federal, para tomar uma decisão. Não havia dúvidas entre eles de que era necessário reagir à entrevista de Segovia. A dúvida era apenas sobre como reagir.
Àquela altura, mesmo em meio à pasmaceira que costuma definir a semana de Carnaval em Brasília, Segovia não era mais apenas Segovia. Era o caso Segovia.

O ministro Luís Roberto Barroso, relator do inquérito de Temer no Supremo, interpelara-o formalmente, horas depois da entrevista, exigindo explicações e pedindo uma investigação à Procuradoria-Geral da República; a oposição fora à Justiça contra ele; e todas as associações de profissionais da polícia condenaram o que ele dissera. Quando Segovia veio a público dizer que não cairia, confirmou-se: o diretor-geral da PF cambaleava.
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