Pular para o conteúdo principal

O fumacê de Temer


Ricardo Miranda – Blog Os Divergentes
A mídia – o novo velho jeito de se referir à imprensa – cobre, com uma seriedade quase senil, os últimos lances da mãe de todas as reformas, a que tira direitos dos velhos, mesmo que até o tapete verde do Congresso saiba que nada será votado este ano. E dificilmente será bandeira de um novo governo, que não quer começar levando bengaladas. Não por algum escrúpulo, mas por já não interessar à base gulosa – novo jeito de chamar a velha fisiologia – que já mira as urnas de outubro. Em sua mensagem ao Congresso, nossa versão chinfrim do “State of the Union”, Michel Temer afirmou que “consertar” a Previdência Social é a “tarefa urgente” do momento. Ele devia ter guardado essa frase lapidar para o auditório do Silvio Santos. Ali receberia aplausos e, quem sabe, uns aviõezinhos de dinheiro. Seria impossível resistir a tamanha sacada, ainda mais dita com o carisma que lhe é peculiar.
É o “State of the Unicorn” de Michel Temer, o mundo encantado em que vive o presidente. Lágrimas devem ter vertido de seus olhos quando escrevia a cartinha ao Congresso, entre talagadas do melhor uísque do Planalto, no cowboy preparado por Eliseu Padilha.
Na semana passada, Temer já havia repetido a ladainha de que ainda não “jogou a toalha” pela aprovação da proposta, alimentando com alpiste os colunistas que insistem que a reforma “possível” deve ser colocada em votação ainda em fevereiro, mesmo com chance de derrota. Nem o espartilho de Temer, o único que sabe onde a coisa lhe aperta, acredita nisso.
Temer, como todo patriota, só pensa no bem do país. Se ainda não existe uma estátua dele em algum lugar é porque o povo ingrato e sem visão histórica, o mesmo que lhe achata a popularidade como quem apaga bituca de cigarro, só sabe erguer homenagens tardias. Até a tatuagem de Wladimir Costa era de henna.
Quando Temer já tiver deixado a Presidência, e puder dedicar mais tempo a pensar em como se desenrolar do Porto de Santos e do Aeroporto de Guarulhos, aí sim, o prefeito de alguma Sucupira, cansado de esperar por enterros, inaugurará um grande busto de bronze do nosso estadista.
A votação da reforma está marcada para o próximo dia 19. Rodrigo Maia, o presidenciável de araque cuja principal função é preparar a candidatura do pai César ao governo fluminense, tem feito de tudo para fingir que, por ele, a reforma da Previdência já seria até ópera rock na Cidade da Música, o elefante pálido erguido pelo alcaide doidinho no trecho mais engarrafado da Barra da Tijuca. Tudo tão verdadeiro quanto a claque depilada no barquinho de Cristiane Brasil.
Há quanto tempo você lê que a proposta precisa do apoio mínimo de 308 dos 513 deputados, em duas votações , mas que líderes da base dizem que o governo conta com “cerca de” 270 votos atualmente. Esses 270 votos devem estar congelados em tubos de nitrogênio para se preservarem dessa forma. É a criogenia política a serviço do nada.
http://www.blogdomagno.com.br/?pagina=2

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mapa das facções em presídios brasileiros

'Fi-lo porque qui-lo': aprenda gramática com frase histórica de Jânio Quadros

FI-LO PORQUE QUI-LO                       Vamos lembrar um pouco de história, política e gramática?                     O ex-presidente Jânio Quadros gostava de usar palavras difíceis, construções eruditas, para manter sua imagem de pessoa culta. Diz o folclore político que, ao ser indagado sobre os motivos de sua renúncia, em 1961, teria dito: "Fi-lo porque qui-lo".                     Traduzindo para uma linguagem mais acessível, mais moderna, ele quis dizer "fiz isso porque quis isso", ou, simplificando, "fiz porque quis".                     Esse "LO" nada mais é que o pronome oblíquo "O", que ga...

Vimos ou viemos à reunião?

Nós VIMOS ou VIEMOS à reunião? Muita gente tem dúvida na hora de flexionar o verbo VIR. Quer um exemplo: Como você diria: “Nós VIMOS ou nós VIEMOS à reunião?” A resposta é: depende. Sim, depende do tempo a que nos referimos. A forma VIMOS é do presente do indicativo. Por exemplo:  “VIMOS, por meio desta, solicitar..." (o verbo VIR está na 1ª pessoa do plural, no presente do indicativo); A forma VIEMOS é do pretérito, do passado. Exemplo: "Ontem nós VIEMOS à reunião." (o verbo VIR está também na 1ª pessoa do plural, mas desta vez no pretérito perfeito do indicativo). Muita gente evita usar o presente, porque a forma VIMOS é, também, o passado do verbo VER: "Nós o vimos ontem, quando saía do escritório".  Para não ter dúvidas sobre qual é o verbo que está sendo usado (o VIR ou o VER), ponha o verbo no singular. Veja: “VENHO, por meio desta, solicitar...” (essa é a 1ª pessoa do singular, em vez de VIMOS, 1ª do plural); “Eu o VI ontem, quando saía do escritório” (e...