Folha de S.Paulo - Marina Dias e Gustavo Uribe
O presidente Michel Temer se irritou com o antecessor Fernando Henrique Cardoso, que em artigo publicado na Folha pregou que o peemedebista tenha a "grandeza de abreviar o seu mandato" e defendeu a convocação de eleições gerais no país.
A manifestação desta segunda (26) não pegou o presidente de surpresa. Temer já vinha recebendo recados de FHC, por meio de interlocutores, sobre a defesa de um novo pleito eleitoral.
Para não permitir que a proposta ganhe força, a determinação do presidente foi para que auxiliares e assessores presidenciais evitem respondê-lo. A ordem é ter cautela, evitando que a pauta ganhe gravidade e contamine parlamentares do PSDB que ainda apoiam o governo.
Seguindo a estratégia de ignorar o tucano, Temer não respondeu ao questionamento da reportagem em evento no Palácio do Planalto. Fez questão de demonstrar que não ficou preocupado. "Olha o sorriso", disse, virando-se para a imprensa e sorrindo.
O receio do Planalto é de que a defesa feita por FHC seja usada como justificativa para que os chamados "cabeças pretas", parlamentares tucanos favoráveis à saída do partido, votem pelo prosseguimento de denúncia contra o presidente.
A avaliação de integrantes do governo, no entanto, é de que a declaração foi um "ato isolado", que não deve precipitar o desembarque da sigla. O diagnóstico é de que os tucanos estão divididos, mas que o foco de maior problema é na Câmara, já que no Senado "o quadro é mais estável".
A avaliação do grupo político do presidente tem ressonância entre quadros do próprio PSDB, que viram como "desastrosa" e "desnecessária" a postura de FHC. Para eles, a tese não pode funcionar como um "gatilho" para o desembarque do partido.
A relação entre o peemedebista e o tucano passa por idas e vindas desde que ele assumiu o Planalto. Em dezembro, Temer ficou semanas sem falar com FHC depois dele ter comparado o governo peemedebista a uma "pinguela", uma ponte frágil.
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