Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
O Brasil ainda não sabe se Michel Temer terminará o ano na Presidência. Mesmo assim, os políticos já pensam no lance seguinte. Os movimentos dos últimos dias reforçam a sensação de que a eleição de 2018 está na rua.
A condenação de Lula obrigou todos os jogadores a moverem suas peças no tabuleiro da sucessão. Diante da ameaça de xeque-mate, o ex-presidente avançou os peões. Subiu num palanque na avenida Paulista e fez discurso de candidato.
Do outro lado da mesa, a jogada mais ensaiada é se apresentar como o anti-Lula. O prefeito João Doria e o deputado Jair Bolsonaro saíram na frente. Os dois usaram as redes sociais para divulgar vídeos comemorando a condenação do petista.
Eles disputam a preferência de quem foi às ruas de verde e amarelo pelo impeachment de Dilma Rousseff. Boa parte desse eleitorado está enojada com o que veio a seguir, mas ainda não se animou a voltar às ruas para protestar.
O governador Geraldo Alckmin tenta correr atrás do pupilo. Na sexta-feira, ele citou o bloqueio de R$ 9 milhões da previdência privada de Lula para atacar o ex-presidente. "O riquinho não sou eu", ironizou.
Na véspera, Lula havia debochado do tucano, seu rival na eleição de 2006. Em entrevista ao programa "Na Sala do Zé", do jornalista José Trajano, ele disse que o governador "parece que mamou até os 14 anos, empinou pipa na frente do ventilador".
Criador e criatura, Alckmin e Doria travam uma disputa cada vez menos discreta pela legenda do PSDB. O governador cercou as peças do prefeito ao propor a realização de prévias no partido. O movimento deixa Doria com duas alternativas incômodas: recuar ou ser tachado de infiel.
Na entrevista de quinta-feira, Lula antecipou outro lance. Indicou que pode lançar o ex-prefeito Fernando Haddad se for impedido de concorrer. "O Haddad pode ser uma personalidade importante se ele se dispuser a percorrer o Brasil", disse.
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