Helena Chagas – Blog Os Divergentes
Vamos assistir a um duelo mortal entre o Efeito Orloff e a Lei de Murici nesta terça-feira no Senado Federal, e vencerá o mais forte: o sentimento de que qualquer senador acusado poderá ser Aécio Neves amanhã ou a pressão da opinião pública que leva os parlamentares a condenarem os colegas na base do “cada um cuida de si”? Quem mede diariamente a temperatura e a pressão daquele plenário azul passou a apontar alguma incerteza quanto a esse desfecho.
Já foi tranquila a situação de Aécio entre seus pares. Num primeiro momento, o sentimento corporativo falou alto e uniu todos os grandes partidos, inclusive o PT, temerosos de terem seus caciques entre os próximos da fila dos que seriam afastados e submetidos a sanções como a reclusão noturna pelo STF. Assustou, principalmente, a desenvoltura da Primeira Turma ao decretar a punição do senador, e a reação da Casa foi num tom acima do normal.
Corrigido o pretenso excesso por obra e graça do próprio Supremo, num desempate dramático que acabou por expor e desgastar a Corte na mídia e nas redes sociais, os ventos mudaram. O primeiro a cair fora foi o PT, que anunciou que votará para manter o afastamento do senador tucano. O PSDB teme que outros, pressionados pelos holofotes do voto aberto, façam o mesmo. Sai o efeito Orloff e entra em cena a Lei de Murici, aquela em que cada um cuida de si e comemora-se a morte alheia com um suspiro de alívio: antes ele do que eu.
Esse último efeito, aliás, esteve por trás da ultima decisão dos senadores em caso semelhante, no final de 2015, quando a Casa, apesar de chocada, resolveu manter preso o colega Delcidio Amaral, meses depois cassado. O maior temor dos aliados de Aécio é que se repita.
Resta ao senador tucano, porém, uma arma importante, que poderá ser decisiva para restaurar seu mandato amanhã: o apoio do Planalto. Aécio espera que o presidente Michel Temer jogue todas as fichas em sua salvação, por um motivo muito simples: se Aécio perder no plenário do Senado e acabar afastado, derrete-se o apoio da metade governista do PSDB a Temer na Câmara, colocando em risco a votação da segunda denúncia entre os deputados. Aí o ditado passa a ser “olho por olho, dente por dente”.
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