Pular para o conteúdo principal

Maia e a estratégia do mimimi

Helena Chagas - Blog Os Divergentes

Políticos costumam ser sujeitos frios e calculistas, mestres na arte da indignação fabricada, das raivas oportunas, da emoção regada a lágrimas de crocodilo. Assim como ninguém acreditou muito no sentimento de abandono e na mágoa demonstrada por Michel Temer em carta dirigida a Dilma Rousseff poucos meses antes do impeachment que a fulminou, é bom não comprar pelo valor de face o aborrecimento que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, faz questão de expressar com o Planalto de Temer.
Quem com mágoas fere, com mágoas será ferido, pode ser o ditado da vez. Aparentemente, Maia – não por acaso sucessor legal de Temer – está fazendo o mesmo jogo que o presidente fez com sua antecessora quando resolveu desertar e trabalhar para derrubá-la. Nessas horas, para não ser acusado de traição, um político precisa mostrar que tem motivos para se afastar e justificar a ruptura.
Quem não se lembra o sensível e choroso Michel reclamando ser tratado como um “vice decorativo” e enumerando os eventos para os quais não fora convidado no governo? Um tremendo mimimi, muito parecido ao que Maia protagoniza.
O deputado começou reclamando do assédio do PMDB a deputados cobiçados por seu partido, o DEM; reagiu ao Planalto porque este não votou no dia em que ele queria a MP da Leniência dos bancos; criticou proposta de aumento do PIS/Cofins, que ameaçou não votar; e desmentiu a versão do Planalto sobre sua conversa com o presidente esta semana. Isso sem contar as vezes em que foi à TV se dizer alvo das fofocas dos ministros do Planalto – o que, de fato, ele é.
Mas Rodrigo Maia cumpriu seu objetivo – que, a esta altura, não é derrubar Michel Temer, apenas mantê-lo bem fraco depois de derrotar a segunda denúncia. Deixou claro ao distinto público que está distante desse impopularíssimo governo de 3%, o que é bom no ano eleitoral. E, sobretudo, aqueceu as turbinas para, no “day after”, fazer decolar seu projeto de assumir uma espécie de comando informal do último ano de governo, a partir da pauta legislativa.


Pode até ser que consiga. Mas é bom lembrar que tem mais gente de olho nessa posição. E que Michel, justiça seja feita, é um mestre na arte de dividir para reinar, mesmo que seja com mimimi.
http://www.blogdomagno.com.br/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mapa das facções em presídios brasileiros

Governo sanciona Lei de Diretrizes Orçamentárias 2018

Do G1 O governo sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018 com mais de 40 vetos. O texto, os vetos e as exposições de motivos que levaram a eles foram publicados na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União. A LDO de 2018 foi aprovada no mês passado pelo Congresso Nacional contemplando um rombo primário nas contas públicas de R$ 131,3 bilhões para 2018, dos quais R$ 129 bilhões somente para o governo federal. O conceito de déficit primário considera que as despesas serão maiores do que as receitas sem contar os gastos com o pagamento de juros da dívida pública. A LDO também traz uma estimativa de salário mínimo de R$ 979 para 2018, um aumento de 4,4% em relação ao salário mínimo em vigor neste ano, que é de R$ 937. Entre outros indicadores, a LDO prevê um crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% em 2018. A inflação estimada é de 4,5% e a taxa básica de juros deve ficar, segundo a proposta, em 9% na média do próximo ano. Mais de 40 v

Dólar opera em alta e bate R$ 4,40 pela 1ª vez na história

No ano, o avanço chega a quase 10%. Na quinta-feira, moeda dos EUA fechou vendida a R$ 4,3917. O dólar opera em alta nesta sexta-feira (21), batendo logo na abertura, pela primeira vez na história, o patamar de R$ 4,40. Às 10h52, a moeda norte-americana era negociada a R$ 4,3940 na venda, em alta de 0,05%. Na máxima até o momento chegou a R$ 4,4061.  Veja mais cotações . Já o dólar turismo era negociado a R$ 4,5934, sem considerar a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Na sessão anterior, o dólar encerrou o dia vendida a R$ 4,3917, em alta de 0,61%, marcando novo recorde nominal (sem considerar a inflação) de fechamento. Na máxima do dia, chegou a R$ 4,3982 – maior cotação nominal intradia até então, segundo dados do ValorPro. A marca de R$ 4,40 é o maior valor nominal já registrado. Considerando a inflação, no entanto, a maior cotação do dólar desde lançamento do Plano Real foi a atingida no final de 2002. Segundo a Economatica, com a correção