Rudolfo Lago – Blog Os Divergentes
Os próximos dias dirão de que tamanho de fato o presidente Michel Temer saiu da votação na Câmara que, pela segunda vez, negou autorização para abertura de processo contra ele por conta das denúncias feitas pelo irmão Friboi Joesley Batista. Por um lado, Temer teve menos votos agora do que na primeira votação. Por outro, livra-se agora da espada do processo no STF e ganha alguma tranquilidade para tentar produzir alguma agenda até o final do seu mandato. É a partir dessas duas vertentes que vamos saber o que acontecerá. Sabemos, pelos baixos índices de popularidade e pelos problemas com a base de sustentação, que temos um presidente da República fraco. O que será preciso ver é se ele sai do episódio mais ou menos enfraquecido.
A situação de Temer é tão ruim que a edição desta quinta-feira (26) do jornal britânico The Guardian chega a fazer a seguinte pergunta: “Acusado de corrupção, com a popularidade perto de zero, por que Temer ainda quer ser presidente do Brasil?”.
Pelo lado da primeira vertente, Temer obteve na segunda votação 251 votos a seu favor. Na primeira votação, foram 263 votos. Ou seja: num momento crucial, 12 deputados evaporaram da sua base. Durante o processo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) mudou da situação de quase paisagem – que não se mexia nem para um lado nem para outro – da primeira votação para uma postura de maior agressividade, reclamando, queixando-se da relação com o Executivo. Como chegou a escrever Helena Chagas, um Rodrigo Maia temperado em mimimi semelhante àquele do próprio Temer quando era vice de Dilma Rousseff.
Pelo lado da segunda vertente, Temer sobreviveu à sua pior batalha. O preço foi alto. Milhões em emendas e verbas liberadas. Diversos outros mimos atendidos. A base rodou em altíssima Bandeira 2, que Temer pagou sem pestanejar, à custa dos nossos impostos. Mas agora ele terá a condição de tentar tocar adiante alguma pauta, tanto no seu governo como no Congresso.
Se poderia argumentar que Temer, se teve agora menos votos, se tem agora um Rodrigo Maia fazendo muxoxos e mimimi, ficará mais refém de uma base que ficou mal acostumada, porque teve seus dispendiosos pedidos prontamente atendidos. A questão é que, eliminado o risco do processo, o Congresso terá agora menos poder de barganha. Temer não estará mais na corda bamba. Nada no horizonte parece ter potencial igual de conseguir fazer o taxímetro dos congressistas voltar a rodar pesado em Bandeira 2.
O que estará longe de significar que Temer agora voará em céu de brigadeiro daqui até o final de 2018. Boa parte de seus principais correligionários ao longo dos últimos anos ou está presa ou sendo investigada ou respondendo a processos. As investigações que continuarão têm grandes chances de trazerem novos constrangimentos ao presidente. Potenciais delações de pessoas muito ligadas a Temer – como, por exemplo, o ex-ministro Geddel Vieira Lima – têm imenso potencial de estrago. Por outro lado, quanto mais perto vai se chegando da eleição, mais vai ficando sem sentido as forças políticas se organizarem para tirar Temer antes de outubro. Como, aliás, já não se organizaram de fato agora, o que explica a total ausência de manifestantes nas ruas e gramados do Congresso.
Se de fato obtiver agora uma situação de maior tranquilidade, Temer tentará apresentar uma agenda de reformas ao Congresso. E, provavelmente, não conseguirá aprová-la integralmente. Terá de negociar e arrefecer em pontos mais polêmicos. No caso da reforma da Previdência, por exemplo, o governo já admite que terá de ceder. E é por aí que Rodrigo Maia, a Câmara e o Congresso imaginam poder obter maior protagonismo. O problema é que se a imagem de Temer anda lá meio enfumaçada junto à opinião pública não é muito melhor a imagem do Congresso
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