El País - Afonso Benites
A homologação das delações premiadas da empreiteira Odebrecht neste segunda-feira -- mas sem a divulgação imediata de seu conteúdo -- iniciou um período de apreensão na gestão Michel Temer (PMDB). O Governo avalia que assim que começar a temporada de vazamentos dos acordos de colaboração com a Justiça, o presidente e seus auxiliares mais próximos avaliarão quais ministros citados no escândalo da Lava Jato terão condições de permanecer no cargo e quais terão de deixar as funções por causa da gravidade das acusações. Nos últimos meses, ao menos quatro deles já foram citados por delatores: Eliseu Padilha (Casa Civil), José Serra (Relações Exteriores), Gilberto Kassab (Cidades) e Moreira Franco (programa de privatizações). Todos negaram qualquer envolvimento em atos ilícit
A presidenta do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, homologou os acordos de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht, mas decidiu os manter sob sigilo nesta segunda. Inicialmente, havia a expectativa de que a presidenta suspendesse esse segredo judicial. Em tese, ela até poderia fazê-lo, mas geralmente essa suspensão só ocorre após um pedido formal do Ministério Público, o que não aconteceu ainda. A expectativa é que mais de uma centena de políticos de diversos partidos estejam entre os citados pela Odebrecht.
O zelo da ministra em relação ao segredo judicial também leva em conta um posicionamento futuro do novo relator do caso, que deverá ser indicado até a próxima quinta-feira por meio de sorteio entre os atuais ministros do STF. Quem for o escolhido herdará todos os processos relacionados à operação Lava Jato que estavam sob a responsabilidade de Teori Zavascki, o ministro que morreu no último dia 19 em um acidente de avião. Só nesta Corte tramitam três ações penais e 40 inquéritos que envolvem mais de sessenta pessoas com foro privilegiado.
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