Helena Chagas - Blog Os Divergentes
Cada um sabe onde lhe aperta o calo. O PT terá tido certamente suas razões para aprovar a permissão para que suas bancadas apoiem os candidatos do establishment governista às presidências da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira.
Essas razões, muito provavelmente, vão além dos cargos nas mesas das duas casas que os petistas e sua tropa varrida da Esplanada fica ameaçada de perder se apresentar candidaturas próprias. De fato, não tem jeito de ganhar.
Mas o que a cúpula do PT tem que avaliar neste momento é se o desgaste provocado pela divisão interna em torno desse assunto, e por sua exposição pública, não será maior do que as possíveis vantagens.
É claro que ficar de fora das mesas, um espaço importante no parlamento, é ruim. Pior ainda, porém, podem ser as consequências do barraco que o PT está vivendo publicamente. No Senado, os mais aguerridos defensores da ex-presidente Dilma Rousseff contra o impeachment, Lindbergh Farias e Gleisi Hoffman, estão inconformados, assim como parte da bancada na Câmara e a maioria da militância que ainda resta.
Na semana que vem, retorno oficial dos trabalhos do Congresso, o assunto vai ecoar e, certamente, será intensamente explorado pelos adversários e pela imprensa. Vai virar uma questão de imagem, justamente num momento em que a dos petistas deixa a desejar. Depois da corrupção, virá de novo a velha acusação de “partido da boquinha”.
Será que vale a pena? São remotas, mas existentes, as chances de o partido voltar ao poder se o governo de Temer e seus aliados fracassar. Mas a premissa básica para isso é reconquistar um mínimo de respeito e simpatia da população. O que não acontecerá de forma alguma se a agenda oposicionista do PT, em vez de se concentrar na denúncia do desmanche de seus programas e políticas sociais, acabar sendo um desgastante e infrutífero bate-bocas em torno da adesão que pode lhes garantir uma secretaria da Câmara ou do Senado.
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