Folha de S.Paulo
Em mensagem de fim de ano para desejar boas festas, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse que o país passa por uma crise política, econômica e ética e fez previsões de um 2017 ainda pior.
Ele gravou um discurso, com duração de pouco mais de três minutos, postado em uma rede social e publicado também no site oficial do Exército nesta quinta-feira (22).
Ele direcionou a mensagem aos seus "comandados".
"Neste ano difícil que está prestes a se encerrar, em meio a uma persistente crise política, econômica e sobretudo ética, testemunhei com satisfação e orgulho sua presença efetiva, pronta e entusiasmada por todo país", afirmou o comandante-geral.
"Vislumbro para o ano que se aproxima o agravamento das dificuldades que assolam o país, com reflexo negativo no nosso orçamentos e nos nossos salários", acrescentou.
Apesar do diagnóstico, o general exaltou o respeito à hierarquia e declarou que a situação não abala a confiança que tem de que a corporação não se afastará "nem um milímetro" da "trajetória retilínea" do Exército, "respaldando e respeitando a Constituição brasileira".
Questionado pela reportagem sobre a mensagem de Villas Bôas, o ministro da Defesa, Raul Jungmann (PPS), afirmou que "o conteúdo está em linha com o momento que vive o país e com o papel estritamente constitucional e democrático das Forças Armadas".
Apesar do lamento do comandante-geral sobre o reflexo negativo aos orçamentos e salários, o ministro disse que não houve diminuição.
INTERVENÇÃO MILITAR
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" no começo deste mês, Villas Bôas disse que há "chance zero" de setores das Forças Armadas se encantarem com a volta dos militares ao poder.
Ele disse que há "tresloucados" ou "malucos" que aparecem cobrando intervenção por causa do caos político que vive o país.
"Eu respondo com o artigo 142 da Constituição. Está tudo ali. Ponto", afirmou na entrevista.
Pelo artigo 142, "as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem."
Isto é, as Forças Armadas estão submetidas ao presidente e agem sob solicitação de algum dos três Poderes.
OUTRA MENSAGEM
Durante o processo que deu início ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o comandante do Exército já havia se manifestado sobre os problemas no país.
Em vídeo divulgado em redes sociais em março deste ano, Villas Bôas declarou que o Brasil estava atravessando uma crise econômica, ética e política, mas adiantava que o Exército apenas obedeceria à Constituição.
"Toda e qualquer atitude nossa será absolutamente respaldada no que os dispositivos legais estabelecem, desde a Constituição até as leis complementares [...], e sempre condicionado ao acionamento de um dos poderes da República", afirmou à época.
Em outro vídeo, este feito em outubro de 2015, o general disse ver risco de a crise virar uma "crise social" que afetaria a estabilidade do país, o que, segundo ele, diria respeito às Forças Armadas.
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