Ricardo Kotscho
Com a maioria das manifestações chegando ao fim, ás cinco e meia da tarde deste domingo, está na hora de nos perguntamos o que nos espera após o quinto e maior ato pró-impeachment até agora, que reuniu centenas de milhares de pessoas em 22 Estados e no Distrito Federal.
A partir de agora, cada nova etapa parece ser decisiva num processo que ganha velocidade em direção a um desfecho para o impasse político e econômico em que o País vive.
A primeira decisão prevista para a próxima semana é a do Supremo Tribunal Federal que vai julgar, na quarta-feira, os embargos da Câmara para definir o rito do impeachment. O passo seguinte será a formação da comissão especial que analisará a abertura do processo, paralisado no final do ano passado pelo STF.
A grande mudança no quadro político em relação a dezembro é a posição do PMDB, o principal aliado do governo. Em sua convenção nacional, no sábado, o partido já preparou seu desembarque da aliança governista, ao dar uma espécie de "aviso prévio" de 30 dias para o governo.
Quase todos os discursos foram de críticas ao governo e ninguém defendeu a presidente no encontro comandado pelo vice Michel Temer, reeleito para a presidência do partido, mas de olho na cadeira de Dilma.
As conversas dos caciques do PMDB com a oposição liderada pelo PSDB já haviam começado antes da convenção e agora devem ganhar velocidade, mas seria prudente se todos prestassem atenção a um episódio que aconteceu no grande ato de protesto da avenida Paulista, em São Paulo.
Ao chegarem à manifestação, o governador paulista Geraldo Alckmin e o senador mineiro Aécio Neves ambos do PSDB, foram vaiados e xingados em pleno território tucano, segundo relato de Caroline Apple e Juca Guimarães, do R7, num protesto escondido pelo resto da imprensa.
Diante dos gritos de "ladrão de merenda" e "corrupto", os dois desistiram de subir no caminhão de som onde pretendiam discursar, e tiveram que sair rapidinho da avenida.
Sobrou xingamento também para a senadora Marta Suplicy, que trocou recentemente o PT pelo PMDB "para combater a corrupção", e teve que se refugiar no prédio da Fiesp.
O que está em jogo neste momento não é só a sobrevivência do governo de Dilma Rousseff, mas a do nosso falido sistema político, com perto de 100 parlamentares enfrentando processos no Supremo Tribunal Federal, entre eles os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, os dois primeiros na linha sucessória.
No momento em que comecei a escrever este texto, a presidente Dilma estava convocando ministros para mais uma reunião de emergência, o que já se tornou rotina nos últimos dias.
Ainda não há números fechados sobre o número de manifestantes que foram às ruas, mas pelas imagens de televisão deu para ver a olho nu que este quinto ato foi o maior desde que os protestos começaram em março do ano passado.
A pressão das ruas pode não ser decisiva, mas certamente vai influenciar a posição dos partidos governistas, a começar pelo PMDB, e os políticos que foram aos seus Estados neste final de semana, que devem voltar a Brasília mais assustados ainda com o que viram e ouviram de seus eleitores sobre o rápido agravamento da crise e a dimensão das manifestações.
De outro lado, o PT e o governo terão muitas dificuldades para ensaiar uma reação, tanto na política como na economia, para sair da paralisia em que se encontram.
A próxima manifestação, desta vez a favor do governo Dilma e em defesa do ex-presidente Lula, foi marcada pela Frente Brasil Popular para a próxima sexta-feira, dia 18, quando saberemos quem tem mais café no bule. Quem arrisca um palpite sobre o que nos espera?
E vamos que vamos.
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