Em três anos de Lava Jato o Brasil experimentou sensações antagônicas. Depois de assistir a coisas inéditas, o país presencia um surto de mesmice. O que há de inédito no escândalo é que, pela primeira vez desde a chegada das Caravelas, o braço punitivo do Estado investigou e prendeu pessoas que, historicamente, se comportavam como se estivessem acima das leis. Esse ineditismo é agora ameaçado pelo que há de mais tradicional na política brasileira: o patrimonialismo se uniu ao oportunismo para restaurar a “normalidade”.
No Brasil, o combate à corrupção convive com uma ‘síndrome do quase’. O país quase conseguiu restaurar a moralidade quando escorraçou Fernando Collor do Planalto. Mas faltou punir as empreiteiras que engordaram o caixa do tesoureiro PC Farias. Os anões quase foram banidos do Orçamento da União. Mas as empreiteiras que compravam emendas orcamentárias foram novamente poupadas. A nação quase virou outra quando o Supremo Tribunal Federal condenou a turma do mensalão. Mas cuidou-se da máfia sem atentar para o capo.
Há uma forme de limpeza no ar. Mas a elite política, nivelada em perversão pela Odebrecht, providencia um dique de contenção. Os procuradores da força-tarefa de Curitiba tremem. Basta uma noite no Congresso e toda uma investigação pode cair por terra, disse um deles. De fato, quem olha para o Congresso põe em dúvida a Teoria da Evolução. A política brasileira parou de evoluir. E considera a hipótese de involuir. No futuro, quando os historiadores puderam falar sobre a Lava Jato sem precisar assistir a TV Câmara de madrugada, a mair operação anticorrupção da história será apresentada como um marco civilizatório ou como um fenômeno que consolidou o Brasil como uma ratocracia.
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