Quem vai ceder nessa queda de braço? E nós, aguentaremos?
Rudolfo Lago – Blog Os Divergentes
O grande nó provocado no mundo político, que só vem se apertando desde o julgamento do mensalão, a famosa Ação Penal 470, é o aumento da intolerância geral da Justiça e dos organismos de controle – Ministério Público à frente – aos expedientes de sempre no financiamento das campanhas e na relação entre financiadores e financiados. Coisas que se operavam como rotina – ainda que sempre à margem da lei – passaram a ser criminalizadas duramente a partir do mensalão, e mais ainda na Lava-Jato. E eis aí o nó: como eram feitas por todos e em todos níveis, sua criminalização vai travando completamente o sistema político, gerando tal grau de amplitude que ninguém sabe a essa altura onde nem quando vai parar.
O depoimento agora de Marcelo Odebrecht, dizendo que todos os partidos fazem caixa 2 e que o caixa 2 era, nesse sentido, situação normal na relação entre a empreiteira e os candidatos que financiava, se assemelha muito ao que o ex-presidente Lula já dizia lá no início do processo do mensalão. Quando, sobre o caixa 2, afirmou que era algo que “todo mundo faz, sistematicamente”.
Por outro lado, anote-se a declaração do procurador Deltan Dallagnol na entrevista que concedeu ao Correio Braziliense neste domingo, recomendando às pessoas que respirem profundamente e continuem se indignando porque muito ainda virá no desenrolar da Operação Lava-Jato.
A gente até já escreveu por aqui sobre essa evolução na intolerância com esses expedientes a partir do julgamento do mensalão. Na Ação Penal 470, apertaram-se entendimentos que levaram a condenações que, antes (no caso do julgamento do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor, por exemplo) não aconteceram. Agora, a mais recente decisão que tornou réu o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) determina que dinheiro oriundo de propina é crime mesmo que seu destino seja financiar campanhas eleitorais. Fica, no caso, caracterizado que pode haver crime de lavagem de dinheiro além do caixa 2.
O nó da questão é que se estamos falando de algo que todos os partidos fazem, conforme diz Marcelo Odebrecht, ou que “todo mundo faz, sistematicamente”, como dissera Lula, estamos diante de algo que só para se os políticos e seus partidos afinal entenderem que precisam reavaliar e refazer os seus métodos. Coisa que eles resistem. Até tentando afrouxar a legislação, no sentido oposto do aumento desse grau de intolerância. Quem vai ceder nessa queda de braço? E nós, aguentaremos?
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