Pular para o conteúdo principal

A hora e a vez dos bancos


Ruy Fabiano
Eis que a Lava Jato não será tão veloz como o seu nome sugere. Se for aceita a oferta do ex-ministro Antonio Palocci, ao juiz Sérgio Moro – e tudo indica que sim -, de abrir nova vertente de denúncias, focada no sistema financeiro, mais um ano de investigações e escândalos se descortina. É o que Palocci avalia.
Todo o alvoroço até aqui provocado na vida pública brasileira envolveu basicamente agentes públicos (parlamentares, prefeitos, governadores, presidente e ex-presidentes da República, juízes) e empresas do setor de infraestrutura. Roubalheira monstruosa, cuja devassa equivale a uma revolução desarmada.
Mas há mais, muito mais.
O que se depreende da Era PT (que inclui seus parceiros do PMDB e PP - e, em graus variados, todo o espectro partidário) é que, em síntese, nenhum cofre público restou ileso. Fundos de pensão, imposto sindical, bolsa família, verbas da cultura, reforma agrária, Receita Federal, merenda escolar, presídios – nada escapou.
O secretário de Saúde de Sérgio Cabral, por exemplo, contrabandeava prótese e material cirúrgico; no mesmo segmento, descobriu-se contrabando de sangue em Pernambuco, ao tempo em que o Ministério da Saúde estava sob o comando do hoje senador petista Humberto Costa. O ex-senador Gim Argelo lavava dinheiro de propina com doações a uma igreja em Brasília; idem o ex-deputado Eduardo Cunha, ambos reconhecidamente homens de fé.
Paulo Bernardo, quando ministro do Planejamento de Dilma, cobrava um adicional dos empréstimos consignados aos aposentados. A roubalheira, com apoio logístico do PT, rendeu R$ 100 milhões.
Mas tudo isso é varejo. Nada se compara em extensão e profundidade ao que ocorria na área das empreiteiras, onde reinou um cartel, em que pontificava a Odebrecht. Destroçou, entre muitas outras, a Petrobras, a Eletrobras, o Dnit, os Correios e respectivos fundos de pensão. Ali, a roubalheira era na escala dos bilhões.
Mas o mundo das finanças, em que Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma, circulou com total desenvoltura – e que conhece como poucos -, ainda carece de devassa. O que se sabe não passa de vislumbres.
Há dias, por exemplo, o Ministério Público denunciou falcatrua na aquisição pela Caixa Econômica de ações do Banco Panamericano (cerca de R$ 800 milhões), em 2011 – governo Dilma.
A Caixa Econômica está quebrada, idem o Banco do Brasil. O TCU examina contratos irregulares do BNDES, a maior parte em obras no exterior, que somam R$ 1,3 trilhão. O governo Temer acenou com o saneamento da máquina estatal, mas o máximo que conseguiu – se é que conseguiu – foi estancar a sangria.
Nada revelou sobre o que houve, de como se chegou a esse resultado. As caixas pretas continuam lacradas. O que se sabe veio das delações premiadas e das investigações da Lava Jato.
É compreensível. O governo Temer é o segundo escalão do PT. E a lei permite que o réu se poupe de fornecer informações que o comprometam. Os esclarecimentos estão vindo pela via judicial. Os petistas roubavam em nome da causa revolucionária, que, mesmo não se consumando, oferecia-lhes pretexto moral; os peemedebistas prescindiam de causa e pretexto; bastava-lhes o produto.
Enquanto os interesses convergiram, manteve-se a aliança, que não recusava auxílio eventual aos adversários, o que explica a ausência de oposição ao longo de todo esse período.
Tudo iria bem se o país, a certa altura, não tivesse falido, na reta final do primeiro governo Dilma. A Lava Jato já estava em ação, mas poucos a percebiam, o que permitiu a reeleição de Dilma.
Deve-se à Força Tarefa e ao juiz Sérgio Moro a reviravolta que se operou na política brasileira, colocando em cena a população, em megamanifestações sem precedentes na história.
O PT foi apeado do governo pela pressão das ruas, não de seus adversários políticos. O impeachment veio apesar deles. PSDB e PT se uniram para evitá-lo. FHC, por exemplo, avalizou a honestidade de Dilma com uma veemência superior à dela própria.
O desmentido veio pelas delações dos parceiros: empreiteiros, parlamentares e ex-ministros. O estrago da Odebrecht ainda está sendo assimilado e o STF anuncia que terá de pedir auxílio a outros magistrados para lidar com a montanha de inquéritos que dali resulta. Mas há ainda as delações da Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, UTC, Delta etc. O país oficial está no banco dos réus.
Em meio a isso, Palocci entra em cena – e com ele os bancos.
http://www.blogdomagno.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mapa das facções em presídios brasileiros

Governo sanciona Lei de Diretrizes Orçamentárias 2018

Do G1 O governo sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018 com mais de 40 vetos. O texto, os vetos e as exposições de motivos que levaram a eles foram publicados na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União. A LDO de 2018 foi aprovada no mês passado pelo Congresso Nacional contemplando um rombo primário nas contas públicas de R$ 131,3 bilhões para 2018, dos quais R$ 129 bilhões somente para o governo federal. O conceito de déficit primário considera que as despesas serão maiores do que as receitas sem contar os gastos com o pagamento de juros da dívida pública. A LDO também traz uma estimativa de salário mínimo de R$ 979 para 2018, um aumento de 4,4% em relação ao salário mínimo em vigor neste ano, que é de R$ 937. Entre outros indicadores, a LDO prevê um crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% em 2018. A inflação estimada é de 4,5% e a taxa básica de juros deve ficar, segundo a proposta, em 9% na média do próximo ano. Mais de 40 v

Dólar opera em alta e bate R$ 4,40 pela 1ª vez na história

No ano, o avanço chega a quase 10%. Na quinta-feira, moeda dos EUA fechou vendida a R$ 4,3917. O dólar opera em alta nesta sexta-feira (21), batendo logo na abertura, pela primeira vez na história, o patamar de R$ 4,40. Às 10h52, a moeda norte-americana era negociada a R$ 4,3940 na venda, em alta de 0,05%. Na máxima até o momento chegou a R$ 4,4061.  Veja mais cotações . Já o dólar turismo era negociado a R$ 4,5934, sem considerar a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Na sessão anterior, o dólar encerrou o dia vendida a R$ 4,3917, em alta de 0,61%, marcando novo recorde nominal (sem considerar a inflação) de fechamento. Na máxima do dia, chegou a R$ 4,3982 – maior cotação nominal intradia até então, segundo dados do ValorPro. A marca de R$ 4,40 é o maior valor nominal já registrado. Considerando a inflação, no entanto, a maior cotação do dólar desde lançamento do Plano Real foi a atingida no final de 2002. Segundo a Economatica, com a correção