Andrei Meireles – Blog Os Divergentes
Na vida e na política, há situações que não podem ser ignoradas mesmo quando nada se pode ganhar com elas. Geralmente resultam em prejuízo. Esse é o dilema de Lula diante das confissões e acusações de Antonio Palocci. Ele não pode deixar de rebate-las, mesmo só tendo a perder nesse embate.
No depoimento ao juiz Sérgio Moro, Lula partiu para o confronto com Palocci. Insistiu na tecla de que era tudo mentira, inventadas sob medida para agradar aos investigadores da Lava Jato.
Na esteira de Lula, a direção nacional do PT se apressou em abrir processo de expulsão de Palocci por traição. A pressa pode ter sido um tiro no pé. O troco do “italiano”, nas quatro páginas de uma carta bem escrita, em que toma iniciativa da desfiliação, cria novos embaraços para Lula e o PT.
Palocci conhece as entranhas petistas. Menos do que até agora foi dito deve preocupar Lula a insinuação do que pode vir por aí. Diz Palocci que, por causa do sigilo de sua delação premiada, limitou-se a falar, em seu depoimento, a fatos relacionados exclusivamente àquele processo – a compra do terreno que seria para o Instituto Lula, e a compra da cobertura vizinha ao apartamento de Lula em São Bernardo.
Como Palocci disse que queimou os navios, a expectativa criada por ele próprio é de que ainda tem muito a contar. Chega a sugerir que, a exemplo da Odebrecht e de outras empresas, o PT feche um acordo de leniência em que confesse as ilegalidades cometidas.
Seu protagonismo na ascensão e consolidação do PT no poder, desde que substituiu o assassinado Celso Daniel na coordenação da campanha presidencial de Lula em 2002, é inquestionável.
É exatamente sobre isso que ele prometer falar, abrir a caixa preta de um lado obscuro de Lula e do PT.
“Coordenei várias campanhas eleitorais, em vários níveis, e pude acompanhar de perto a evolução de nosso poder e nossa deterioração moral. Assumo todas as responsabilidades quanto a isso, mas lamento dizer que, nos acertos e erros, nos trabalhos honrados e nos piores atos de ilicitudes, nunca estive sozinho”.
Há dúvida se ele terá como provar tudo o que contar. Mas, só o fato de ter participado do núcleo mais fechado de Lula nas decisões do PT e de seus governos em todo esse período, pode causar um grande estrago.
Mesmo que não queira, Lula vai ter que responder. É uma briga indigesta. Só um lado tem a perder. O outro já perdeu.
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