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Movimentação suspeita de recursos da J&F a políticos

Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta que grupo movimentou R$ 248 bilhões em 14 anos, incluindo repasses a investigados pela Lava Jato.

Por Camila Bomfim, TV Globo, Brasília
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda (Coaf), identificou movimentação suspeita de R$ 248 bilhões feitas pelo grupo J&F entre 2003 e 2017.
O conteúdo do documento foi revelado pela revista "Veja", e a TV Globo também teve acesso ao relatório.
Segundo a reportagem da revista, o relatório do Coaf aponta que, em 14 anos, a J&F movimentou a quantia em operações nebulosas, que incluem remessas a políticos investigados pela Operação Lava Jato.
O órgão capta transações fora de padrão, atípicas, e os motivos apontados pelo Coaf para registrar estas operações são diferentes pra cada pessoa citada no relatório de inteligência financeira.
Repasses de mais de R$ 100 mil têm de ser avisados pelos bancos ao Coaf imediatamente.
Todas as informações que estão no relatório poderão ser usadas em novas investigações ou em inquéritos já em andamento.
Mas nem todas as operações são necessariamente resultado de crimes. Isso será investigado a partir de outras informações de posse dos investigadores.
O secretario-executivo do Coaf, Ricardo Liáo, explica o que o órgão considera como operações suspeitas.
"As operações suspeitas são aquelas que, observadas pelos setores obrigados, destoam, vamos dizer assim, da naturalidade das coisas. Ou seja, comportamentos diferenciados, situações de identificação prejudicada, incompatibilidade do patrimônio das pessoas com as movimentações observadas", disse.
"Coisas que chamam a atenção normalmente até ao leigo de que aquilo em tese não é uma operação normal, mas que também não é necessariamente um crime. Daí a necessidade de se verificar com maior detalhamento o grau de suspeição e, a partir daí, um eventual envolvimento com alguma ação criminosa", complementou Liáo.
Políticos
Entre os políticos citados no relatório é o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que está preso. O relatório do Coaf diz que, entre janeiro de 2011 e março de 2015, os pais do ex-ministro, Marluce Quadros Vieira Lima e Afrisio de Souza Vieira Lima, movimentaram ao todo R$ 34 milhões.
De acordo com o relatório, desse valor, pelo menos R$ 4,3 milhões vieram de créditos do frigorífico JBS, controlado pelo grupo J&F. O Coaf, porém, não aponta tranferências diretas para o ex-ministro.
A reportagem de "Veja" aponta também recursos destinados ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-presidente do Senado.
O relatório do Coaf fala em repasse de R$ 1 milhão para o diretório estadual do PMDB alagoano, movimentados por Renan e pelo tesoureiro do partido. A transferência foi realizada entre janeiro de 2013 e novembro de 2014.
Segundo declaração registrada junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a JBS fez a doação de R$ 1 milhão ao diretório do PMDB.
De acordo com a revista, as empresas da família do ministro da Ciencia, Tecnologia , Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD-SP), receberam R$ 17 milhões da JBS. Ao próprio Kassab, segundo o relatório, foram feitos repasse de R$ 1,26 milhão.
O Coaf também cita no relatório repasse de R$ 11 milhões ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Também há registros de transações suspeitas que somam R$ 30 milhões ao operador financeiro Lúcio Funaro, apontado pela Lava Jato como operador do PMDB, e de R$ 17 milhões marqueteiro Duda Mendonça, que fez campanhas para PT e PMDB.
Versão dos citados
A assessoria do ministro Gilberto Kassab negou qualquer suspeita relacionada aos contratos e disse que as investigações vão comprovar que tudo foi feito dentro da legalidade, com nota fiscal.
O senador Renan Calheiros afirmou que não movimentou, de forma irregular, conta de campanha ou usou tais recursos em benefício pessoal. Ele declarou ainda que, como presidente do partido em Alagoas, era responsável pelas movimentações previstas pela lei eleitoral, o que, segundo ele, foi feito dentro de critérios de transparência e legalidade.
A defesa de José Carlos Bumlai afirmou que pode comprovar que os pagamentos foram lícitos.
A J&F declarou que os casos concretos e suspeitos foram revelados pelos delatores do grupo nos depoimentos e que o valor mencionado na reportagem não reflete uma soma real, apenas a entrada e a saída de recursos, incluindo operações realizadas de forma pública, lícita e oficial.
A empresa disse ainda que os delatores continuam à disposição da Justiça para qualquer esclarecimento.

As defesas de Lúcio Funaro e do ex-ministro Geddel Vieira Lima não quiseram se manifestar.
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