Josias de Souza
Vieram à luz novos grampos que Joesley Batista e seus subordinados fizeram de si mesmos. A Presidência da República apressou-se em divulgar uma nota. Nela, informou que os áudios reforçam a convicção de que “um grupo de meliantes” se juntou para arquitetar uma “grande armação”. Tudo com o propósito de atacar “a honra e a dignidade pessoal” de Temer.
O texto da Presidência volta a insinuar que os delatores da JBS agiram em conluio com membros da Procuradoria, para armar a cilada na qual Temer caiu ao receber Joesley à noite no Jaburu. “O país não pode ficar nas mãos de criminosos e bandidos que manipulam autoridades, mercado, mídia e paralisam o país”, diz o texto. “É hora de retornar o caminho do crescimento e da geração de emprego.”
Em timbre encrespado, a nota cobrou apuração: “Não se pode mais tolerar que investigadores atuem como integrantes da santa inquisição, acusando sem provas e permitindo a delatores usarem mecanismos da lei para fugir de seus crimes. Cabe agora, diante de tão grave revelação, ampla investigação para apurar esses fatos absurdos e a responsabilização de todos os envolvidos, em todas as esferas.”
De duas, uma: ou Temer autorizará seus aliados na Câmara a aprovarem a continuidade das investigações contra ele próprio e os ministros palacianos Eliseu Padilha e Moreira Franco ou o presidente da República imagina que preside uma nação de bobos.
Ninguém desconhece que os detratores de Temer são meliantes. Não se encontra delator em convento. O espantoso é que meliantes tivessem acesso às dependências do palácio residencial. Mais estarrecedora foi a descoberta de que o presidente da República entabulava diálogos vadios com gente tão desqualificada. Restou evidente também que os delatores fizeram uma seleção dos segredos que dividiram com a Procuradoria. É por essas e muitas outras que o acordo de colaboração judicial foi revogado e os ex-colaboradores receberam voz de prisão.
De resto, há fundadas suspeitas de que procuradores mantiveram relações impróprias com os bandidos. Há uma investigação em curso. A doutora Raquel Dodge, sucessora do procurador-geral Rodrigo Janot, vai dando demonstrações de que saberá o que fazer para limpar o seu quintal. Nada disso, por enquanto, foi suficiente para invalidar as provas obtidas até aqui.
Fica faltando apenas a investigação de Temer e de seus assemelhados. Sem uma apuração decente, “a honra e a dignidade” de Temer são asteriscos válidos apenas até certo ponto. O ponto de interrogação.
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