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O que a imprensa espanhola vê no Brasil e não vê lá


Do Jornal do Brasil
Há pelo menos um ano, desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu seu segundo mandato, a imprensa espanhola - jornais como El País, El Mundo e ABC - se especializou em noticiar fatos negativos e amplificá-los para o mundo. Desde críticas à Lava Jato, passando pela instabilidade política até a situação econômica, esta mesma que ganhou importância no cenário mundial, segundo recente relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os periódicos ibéricos acima citados parecem, no entanto, não enxergar os fatos que se desenrolam sob suas vistas nesses últimos meses. Ao passo em que apontam o desgoverno brasileiro e as ameaças de impeachment diante da complicada relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, deixam de analisar o iminente perigo que se aproxima na política espanhola, esta sim a verdadeira ausência de governança.
Aos fatos: Pablo Iglesias, líder do partido Podemos, a terceira força nas recentes eleições espanholas, tenta dar as cartas na formação do governo. Espera-se uma decisão contra a proposta de Iglesias, pois o contrário seria a desmoralização do PSOE. Por analogia, seria afirmar o risco de a Espanha se tornar uma convulsiva Grécia, aquela mesma que se aventurou numa coalizão da esquerda com a direita.
Aqui no Brasil, seria o mesmo que o PSDB ganhar a próxima eleição, se coligar à minúscula Rede Sustentabilidade e ter, no dia seguinte, Marina Silva à espera de cargos do alto comando do governo. Para usar de eufemismo, essa é a “estratégia” que o PMDB, partido aliado, utiliza com o PT, partido vencedor das eleições presidenciais. Cargos em troca de apoio. Ou o impeachment solto na Câmara dos Deputados.  
O atual chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy, do conservador PP, que obteve maioria apertada, não tem o consenso do PSOE, segundo nas eleições, e do Podemos. A possibilidade de que sejam convocadas novas eleições provoca calafrios nos que zelam pela governança. Isso significa que, seguindo os trâmites políticos constitucionais, que a Espanha ficaria pelo menos seis meses sem um governante.
A imprensa espanhola aponta o desgoverno do Brasil, sem reconhecer que há no poder um partido que tenta governar e que há um outro insistindo que o país não tem governo. Mas estes mesmos articulistas não estão se atentando para o fato de que a Espanha, esta sim, poderá ser atingida institucionalmente por um desgoverno que, nas expectativas mais otimistas, poderá durar seis meses. 
Vale lembrar que a Espanha é um país em crise e que custa a se recuperar da chamada "década perdida" iniciada em 2008. Seus índices sócio-econômicos são alarmantes. O FMI estima que nem mesmo até 2020 o país consiga solapar a altíssima taxa de desemprego que assola a juventude altamente qualificada, taxa esta que se compara à da Grécia. O cenário espanhol, que já é ruim, pode ficar ainda pior. Cabe, agora, à imprensa espanhola colocar essas questões em perspectiva.

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