Folha de S.Paulo - EDITORIAL
O atribulado processo de substituição do ministro do Trabalho deu mostras, mais uma vez, das dificuldades do presidente Michel Temer (MDB) na tentativa de recompor seu apoio parlamentar.
O desconhecido Ronaldo Nogueira (PTB-RS), que pediu demissão da pasta no dia 27 de dezembro, havia chegado ao cargo por indicação de seu partido, sócio da coalizão governista.
Não foi surpresa, portanto, que rapidamente tenha surgido, para preencher a vaga, o nome de outro petebista, o deputado Pedro Fernandes (MA). Mas a indicação teve vida curta –durou até se saber que o ex-futuro ministro não contaria com o endosso do ex-presidente José Sarney (MDB), de quem é rival no cenário político maranhense.
Desautorizado, o presidente Temer recuou e optou, a seguir, pela deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ). O verdadeiro pai da ideia –e também da indicada– é o cacique da sigla, Roberto Jefferson, que foi pivô e se viu condenado no escândalo no mensalão.
Ao anunciar a escolha, o ex-deputado promoveu mais um de seus pequenos espetáculos farsescos, pontuado por pausas dramáticas e olhos lacrimejantes. Declarou que a escolha da filha era motivo de orgulho e significava um "resgate" do nome da família.
Não tardou para que viesse à tona um fato um tanto incômodo para a figura nomeada para comandar a pasta do Trabalho: em 2016, a deputada foi condenada a pagar uma dívida trabalhista de R$ 60 mil a um motorista que lhe prestava serviços –sem carteira assinada, segundo afirma o profissional.
Mas não é esse o fator principal a desencorajar maior otimismo quanto à nova fase do órgão. Mais importantes são o enfraquecimento do governo e falta de diretrizes claras para as políticas da área.
O feito mais notório de Nogueira, o petebista antecedente, foi uma portaria que afrouxava os critérios de caracterização do trabalho análogo à escravidão. A medida provocou protestos no país e censuras de organismos internacionais.
Foi definida pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, como um "claro retrocesso". Por fim, o texto, que teve seus efeitos suspensos pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, acabou substituído por outro, pouco antes da troca de comando no ministério.
O governo, como se sabe, terá pela frente uma série de substituições no comando de seus mistérios. Incapaz, até aqui, de reunir quórum para aprovar a reforma da Previdência, mesmo em versão reduzida, Temer usará a votação para tentar ganhar fôlego politico.
Nesse quadro, não há muito o que esperar além de novas rodadas de fisiologismo e troca de favores.
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