O ex-deputado federal Ulysses Guimarães costumava responder as críticas à Câmara desta forma: “Estão achando ruim o nível do Congresso? Esperem a próxima (Legislatura), que será pior ainda”. Era uma profecia em relação ao fracasso de uma manobra que retrata a decadência do atual Congresso Nacional, que não se cansa de criar manobras para escapar de punições.
Acostumados a se esconder atrás da “imunidade parlamentar”, os deputados decidiram, no apagar das luzes da última segunda-feira, colocar em votação o projeto de lei que anistia políticos envolvidos em esquema de caixa dois. Pipocaram críticas à engenhosa proposta, que tenta melar a Operação Lava Jato.
A manobra parou na crítica dos únicos partidos que não participaram da “brincadeira de criança”, conforme definiu o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ): PSOL e Rede. Os partidos aliados de o presidente Michel Temer queriam criar um tipo penal específico para o caixa 2 eleitoral. Mas a prática já é criminalizada no Brasil.
“É uma proposta de diversos partidos”, disse o primeiro-secretário, Beto Mansur (PRB-SP). Nos bastidores, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acertou a votação com os líderes na semana passada. Maia contou com apoio do PSDB, que se acovardou diante da minoria barulhenta contrária à proposta.
No momento, a Câmara recolheu o arsenal. Não significa que houve desistência em anistiar os políticos e empresas enrolados com caixa dois. A proposta pode entrar, novamente, no apagar das luzes. No fundo, foi um teatro de horror, que Ulysses Guimarães nem fazia ideia.
Burrice - Em reunião com empresários, na semana passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), classificou como “burrice” do Governo mandar a reforma da Previdência antes das eleições, que ocorrem em 2 de outubro. Segundo ele, o Palácio do Planalto deveria, primeiro, “vencer a PEC que limita os gastos públicos”. Na avaliação do deputado, misturar dois temas tão polêmicos antes da eleição dificultará à aprovação de ambas as propostas.
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