O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, hoje, a ação da Polícia Federal durante a 34ª fase da Operação Lava Jato. Em entrevista a uma emissora de rádio no Ceará, Lula disse que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, preso durante a operação, deveria ser tratado como "um ser humano". A menção foi feita à informação de que Mantega, que foi preso em frente ao hospital Albert Einstein, em São Paulo, teria sido detido dentro na sala de cirurgia do hospital no momento em que sua mulher, vítima de um câncer, seria operada.
"O que me preocupa é a notícia de que o ex-ministro Guido Mantega foi preso dentro da sala de cirurgia [...] ia começar o processo cirúrgico e ele foi preso lá dentro. Se isso é verdade, qualquer tese de humanitarismo foi jogada no lixo porque o Guido é um homem que foi ministro da Fazenda, que tem residência fixa. As pessoas poderiam tratá-lo como se trata todo ser humano", disse Lula.
A informação de que Mantega teria sido detido dentro do centro cirúrgico do hospital começou a circular logo após a deflagração da operação e da confirmação de sua prisão temporária, mas foi posteriormente contestada durante a entrevista coletiva realizada em Curitiba por integrantes da PF e do MPF (Ministério Público Federal).
De acordo com os procuradores da Lava Jato, o então ministro atuou diretamente junto ao empresário Eike Batista, dono da empresa OSX, que havia sido contratada pela Petrobras, para negociar o repasse de recursos para pagamentos de dívidas de campanha de partidos políticos aliados do governo do PT em 2012.
Em seu depoimento, Eike declarou que recebeu pedido do ex-ministro para que fizesse um pagamento de R$ 5 milhões para o PT.
Mantega foi ministro da Fazenda entre 2006 e 2014, nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT. Ele também foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Repercussão
Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", o advogado de Mantega, José Roberto Batochio, disse esperar que a ação da PF não atrapalhe a cirurgia da mulher do ex-ministro. Já o vice-líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (RS), classificou como "covardia" a prisão de Mantega no hospital.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) classificou a ação de "espetáculo". "E não podia faltar o espetáculo e a humilhação, característicos de Moro e PF", disse a petista.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que o ocorrido foi uma "desumanidade inaceitável". "A operação não deveria chamar Arquivo X, mas sim Operação Boca de Urna", comentou Falcão à "Folha".
Já o desembargador e professor de direito Wálter Maierovitch considerou "exagerada, desproporcional, desnecessária" a prisão temporária do ex-ministro. Maierovitch afirma que a prisão temporária só pode ser decretada se de fato necessária às investigações ou se tornaria uma "antecipação do julgamento".
Procurado, o Hospital Albert Einstein disse que não tinha informações sobre o estado de saúde da mulher de Mantega.
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