Ricardo Boechat - ISTOÉ
Atolados em impopularidade e descrédito, os nossos políticos continuam fornecendo evidências de que desprezam os riscos do seu divórcio litigioso com a opinião pública. Mais que isso, dia sim, outro também, dobram a aposta na certeza de que vencerão a queda de braço com a população, a despeito da crescente impaciência coletiva.
Quanto mais os cidadãos exigem mudanças nos padrões moral e ético de suas excelências, mais são afrontados pelos senhores das casas legislativas e da máquina pública. Há quem suspeite, não sem lógica, que esse alheamento decorre de um fenômeno cósmico: a política brasileira é dominada por seres de outro planeta, de forma física e fisiologia idênticas à humana, mas que se movem segundo outra ordem de interesses e valores. Faz sentido… Afinal, não fosse essa a razão, o que explica a absoluta falta de constrangimento na conduta cotidiana da avassaladora maioria dos parlamentares e governantes? Só nos últimos dias, três episódios deram substância a essa tese. No primeiro, o peemedebista Romero Jucá apresentou projeto proibindo processar os presidentes da Câmara e do Senado por quaisquer crimes – inclusive matar a própria mãe – que tenham cometido antes de ungidos aos respectivos cargos. Desnecessário dizer que os alvos da proteção, Eunício Oliveira e Rodrigo Maia, estão citados nas delações premiadas da Lava Jato.
No segundo exemplo, a Câmara insistiu em incluir parentes de políticos na lista dos contribuintes que poderão repatriar capitais enviados para o exterior, ao arrepio da Receita Federal. No terceiro, o mesmo Maia avisou que submeterá a checagem individual os mais de 2,2 milhões de assinaturas em apoio às Dez Medidas contra a Corrupção, numa cínica confissão que condenará ao limbo o projeto de iniciativa popular mais celebrado da história da República.
Nas duas primeiras iniciativas, os “marcianos” recuaram, porém, impressiona a ousadia com que chegaram a defendê-las. Talvez seja preciso mudar a legislação penal. Um novo artigo absolverá os políticos pelos crimes que cometeram, já que a impunidade de fato predomina. Mas passaria a puní-los pelas intenções que manifestam.As penas seriam perpétuas.
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