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Um insano com o botão nuclear?

Clóvis Rossi - Folha de S.Paulo

No dia 18, comentei que o então mais recente delírio de Donald Trump era um caso para camisa de força .
Descubro agora que nem exagerei nem estou sozinho nessa avaliação: o jornal "USA Today" anuncia que o democrata Jamie Raskin, ex-professor de legislação constitucional, apresentou proposta, já em abril, para que se crie uma comissão independente para determinar se o presidente (qualquer presidente) tem ou não capacidade física ou mental para desempenhar suas atividades.
É, de resto, determinação da 25ª Emenda Constitucional, ratificada faz 50 anos, mas nunca posta em prática. Foi preciso um Trump para que alguém a invocasse.
Que Trump é o inspirador da proposta, vê-se na avaliação de Raskin de que "há um aumento abrupto de interesse depois de cada episódio agudo envolvendo o comportamento do presidente".
A proposta já tem 28 copatrocinadores e mais podem se apresentar até que o Congresso americano retome as sessões, o que ocorrerá no próximo dia 5.
O deputado democrata não é o único a desconfiar da capacidade de Trump para o cargo.
James Clapper, que foi diretor do Departamento de Inteligência Nacional por sete anos durante o governo de Barack Obama, disse esta semana que "dá um baita medo" o fato de Trump ter acesso aos códigos nucleares -ao botão que, apertado, aciona as bombas.
Clapper lembrou que, assim que a identidade do presidente for confirmada por um sistema codificado que fica permanentemente com ele ou perto dele, a cadeia militar de comando não tem mais poderes para bloquear a ordem de lançamento de um ataque.
Quer dizer o seguinte: se Trump estiver em um mau dia quando a Coreia do Norte fizer alguma estripulia, mesmo não letal, pode de fato despachar fogo e fúria sobre o país asiático, como prometeu.
O pior é que Trump parece estar sempre em um mau dia.
Além disso, tem verdadeira compulsão por mentir -o que não deixa de ser revelador de algum grau de insanidade.
Roger Cohen, colunista do "New York Times", conta que, há algumas semanas, o presidente mentiu sobre telefonemas que teria recebido, para felicitá-lo, do presidente do México e do chefe dos Escoteiros.
"Os telefonemas nunca aconteceram. Eram pura invenção", escreveu Cohen.
Nenhuma novidade, aliás: o "New York Times" fez uma compilação específica sobre as mentiras de Trump e concluiu que ele mentiu, distorceu ou exagerou todos os dias em seus primeiros 40 dias na Casa Branca.
A média diária caiu depois, claro, mas ele continuou mentindo.
Conclui o colunista, que já foi correspondente no Brasil e é dos melhores que conheço: "Um presidente desonesto chama de desonesta a mídia que relata sua desonestidade. (...) Esse é o perigo que Trump representa".
Periculosidade que já salta aos olhos até de líderes republicanos.
É o caso, por exemplo, de Mitch McConnell, líder da maioria no Senado, que se desentendeu com o presidente e acaba de dizer que duvida que Trump possa salvar sua administração.

Antes que ela a destrua e leve com ela alguma parte do mundo, que se aplique a 25ª Emenda. 
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