Folha de S.Paulo – EDITORIAL
Se já deve ser levado a sério como candidato à Presidência, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) igualmente dá sinais de que busca se tornar um nome palatável ao establishment político e econômico nacional.
Trata-se de movimento pragmático, cujo propósito imediato é obter apoios e estrutura para sustentar uma pré-campanha que até o momento se impôs por meio de uma retórica raivosa, que explora medos e preconceitos.
O postulante da direita radical beneficia-se, ao mesmo tempo, da degradação econômica e social do país nos últimos anos e da ausência de candidaturas definidas fora do campo esquerdista.
Por ora um lobo solitário nesse terreno, pesca nas águas turvas do quadro de escândalos de corrupção, descrédito de partidos tradicionais, insegurança trabalhista e temor da violência.
Segundo o Datafolha, ele obtém 17% dos votos em qualquer dos cenários projetados. Seus eleitores mostram perfil um tanto atípico. Dois terços são homens; cerca de 30% têm menos de 24 anos; 60% concluíram o ensino médio.
Entre os nomes até agora mais prováveis, seus adeptos são aqueles que menos declaram preferência por algum partido —75% deles, contra 63% da média.
No universo de entrevistados com renda superior a dez salários mínimos, bate Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Marina Silva (Rede).
Firme no segundo lugar das pesquisas, Bolsonaro ainda procura o que dizer sobre os destinos do país.
Mesmo no seu tema de predileção, a segurança, jamais propôs diretrizes mais consistentes para a ação do Estado. Limita-se a pregar a repressão de crimes por meio de métodos violentos e do armamento da população.
Não faz muito tempo, apresentava-se como um nacionalista econômico, simpatizante de políticas da ditadura militar, contrário a privatizações, favorável ao protecionismo e ao fechamento de fronteiras, inclusive para imigrantes.
Mais recentemente, de modo trôpego, tenta incorporar a sua retórica alguns rudimentos do liberalismo e da responsabilidade orçamentária. O próprio deputado, no entanto, reconhece que pouco entende do assunto.
Tampouco se tem grande noção do pensamento de Bolsonaro por meio da análise de sua carreira política —afora o que se conhece de seus rompantes e grosserias, costumeiramente ofensivos a mulheres e homossexuais.
A despeito de exercer seu sétimo mandato consecutivo, a trajetória parlamentar é apagada. Não se destacou por apresentar ou relatar projetos de importância, por articular ou liderar grupos políticos de relevância no Congresso.
Carece de aliados, de planos de substância, de partido. Muito terá de trabalhar para que não seja
tão somente mais uma outra ameaça ao soerguimento do país.
http://www.blogdomagno.com.br/?pagina=2
Se já deve ser levado a sério como candidato à Presidência, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) igualmente dá sinais de que busca se tornar um nome palatável ao establishment político e econômico nacional.
Trata-se de movimento pragmático, cujo propósito imediato é obter apoios e estrutura para sustentar uma pré-campanha que até o momento se impôs por meio de uma retórica raivosa, que explora medos e preconceitos.
O postulante da direita radical beneficia-se, ao mesmo tempo, da degradação econômica e social do país nos últimos anos e da ausência de candidaturas definidas fora do campo esquerdista.
Por ora um lobo solitário nesse terreno, pesca nas águas turvas do quadro de escândalos de corrupção, descrédito de partidos tradicionais, insegurança trabalhista e temor da violência.
Segundo o Datafolha, ele obtém 17% dos votos em qualquer dos cenários projetados. Seus eleitores mostram perfil um tanto atípico. Dois terços são homens; cerca de 30% têm menos de 24 anos; 60% concluíram o ensino médio.
Entre os nomes até agora mais prováveis, seus adeptos são aqueles que menos declaram preferência por algum partido —75% deles, contra 63% da média.
No universo de entrevistados com renda superior a dez salários mínimos, bate Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Marina Silva (Rede).
Firme no segundo lugar das pesquisas, Bolsonaro ainda procura o que dizer sobre os destinos do país.
Mesmo no seu tema de predileção, a segurança, jamais propôs diretrizes mais consistentes para a ação do Estado. Limita-se a pregar a repressão de crimes por meio de métodos violentos e do armamento da população.
Não faz muito tempo, apresentava-se como um nacionalista econômico, simpatizante de políticas da ditadura militar, contrário a privatizações, favorável ao protecionismo e ao fechamento de fronteiras, inclusive para imigrantes.
Mais recentemente, de modo trôpego, tenta incorporar a sua retórica alguns rudimentos do liberalismo e da responsabilidade orçamentária. O próprio deputado, no entanto, reconhece que pouco entende do assunto.
Tampouco se tem grande noção do pensamento de Bolsonaro por meio da análise de sua carreira política —afora o que se conhece de seus rompantes e grosserias, costumeiramente ofensivos a mulheres e homossexuais.
A despeito de exercer seu sétimo mandato consecutivo, a trajetória parlamentar é apagada. Não se destacou por apresentar ou relatar projetos de importância, por articular ou liderar grupos políticos de relevância no Congresso.
Carece de aliados, de planos de substância, de partido. Muito terá de trabalhar para que não seja
tão somente mais uma outra ameaça ao soerguimento do país.
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