Pular para o conteúdo principal

De recuo em recuo


Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Antes de assumir, Michel Temer anunciou que diminuiria o número de ministérios. Pressionado pelos partidos que apoiaram o impeachment, voltou atrás. Criticado pela imprensa, recuou do recuo.
Produziu um factoide e um problema. Deixou de poupar dinheiro público, porque a economia com os cortes foi irrelevante, e comprou uma guerra com a classe artística, ao reduzir o Ministério da Cultura a um guichê da pasta da Educação.
O peemedebista também informou que montaria uma equipe de notáveis. Vazou convites a figuras de prestígio, mas sucumbiu outra vez ao apetite dos políticos.
Acabou por repetir o modelo de loteamento das gestões petistas, carimbando indicações partidárias sem examinar o currículo dos escolhidos. De quebra, garantiu proteção a citados na Lava Jato.
O vaivém da montagem do governo tem se repetido nos primeiros dias de interinidade. Temer e seus ministros batem cabeça, e propostas anunciadas à imprensa são abandonadas em menos de 24 horas.
Na segunda-feira (16), o novo ministro da Justiça defendeu mudanças no processo de escolha do procurador-geral da República. A ideia foi interpretada como uma ameaça à independência do Ministério Público. O presidente desautorizou o auxiliar, que foi obrigado a voltar atrás.
Nesta terça (17) o ministro da Saúde mexeu em outro vespeiro ao propor a "revisão" do tamanho do SUS. Diante da repercussão negativa, precisourecuar. Entre a ida e a vinda, soube-se que Temer entregou a saúde pública a um deputado que teve a campanha financiada por planos privados.


Aliados do peemedebista alegam que a sucessão de tropeços era inevitável, já que ele precisou montar o governo às pressas. A explicação não resiste a um exame do calendário. Desde que Temer declarou que o país precisava de alguém para "reunificá-lo", insinuando-se para a cadeira presidencial, passaram-se mais de nove meses. É o tempo de uma gestação.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mapa das facções em presídios brasileiros

'Fi-lo porque qui-lo': aprenda gramática com frase histórica de Jânio Quadros

FI-LO PORQUE QUI-LO                       Vamos lembrar um pouco de história, política e gramática?                     O ex-presidente Jânio Quadros gostava de usar palavras difíceis, construções eruditas, para manter sua imagem de pessoa culta. Diz o folclore político que, ao ser indagado sobre os motivos de sua renúncia, em 1961, teria dito: "Fi-lo porque qui-lo".                     Traduzindo para uma linguagem mais acessível, mais moderna, ele quis dizer "fiz isso porque quis isso", ou, simplificando, "fiz porque quis".                     Esse "LO" nada mais é que o pronome oblíquo "O", que ga...

Vimos ou viemos à reunião?

Nós VIMOS ou VIEMOS à reunião? Muita gente tem dúvida na hora de flexionar o verbo VIR. Quer um exemplo: Como você diria: “Nós VIMOS ou nós VIEMOS à reunião?” A resposta é: depende. Sim, depende do tempo a que nos referimos. A forma VIMOS é do presente do indicativo. Por exemplo:  “VIMOS, por meio desta, solicitar..." (o verbo VIR está na 1ª pessoa do plural, no presente do indicativo); A forma VIEMOS é do pretérito, do passado. Exemplo: "Ontem nós VIEMOS à reunião." (o verbo VIR está também na 1ª pessoa do plural, mas desta vez no pretérito perfeito do indicativo). Muita gente evita usar o presente, porque a forma VIMOS é, também, o passado do verbo VER: "Nós o vimos ontem, quando saía do escritório".  Para não ter dúvidas sobre qual é o verbo que está sendo usado (o VIR ou o VER), ponha o verbo no singular. Veja: “VENHO, por meio desta, solicitar...” (essa é a 1ª pessoa do singular, em vez de VIMOS, 1ª do plural); “Eu o VI ontem, quando saía do escritório” (e...