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Queda de Dilma não justifica guinada tão à direita


Blog do Kennedy
O afastamento da presidente Dilma Rousseff não significa aval ao novo governo para uma guinada tão à direita. Uma parcela da opinião pública mais ao centro do espectro político e que queria a queda de Dilma pode reforçar as críticas do segmento de esquerda à administração do presidente interino, Michel Temer.
Esse parcela da opinião pública mais ao centro pode se afastar do governo. Uma coisa é esse público ter apoiado a saída de Dilma do poder. Outra é endossar, por exemplo, ideias como a mudança do critério de escolha do procurador-geral da República, uma diminuição do tamanho e das atribuições do SUS (Sistema Único de Saúde), um corte significativo nos benefícios do Bolsa Família e a extinção da pasta da Cultura. Esse novo ministério tem sido uma usina diária de propostas conservadoras.
O PT e a parcela da opinião pública mais à esquerda empunhavam uma bandeira: a de que houve um golpe. Agora, ganharam mais bandeiras para defender porque os novos ministros as fornecem.
O PMDB apoiou os governos do PT desde a primeira gestão. Após a crise do mensalão, em 2005, a maioria do PMDB deu suporte a Lula e depois a Dilma. Os peemedebistas não podem romper abruptamente com políticas públicas que sustentaram durante uma década.
Temer rebate a crítica de falta de votos dizendo que foi eleito na chapa com Dilma. Ou seja, Temer e o PMDB integraram o projeto de poder do PT. A presidente foi afastada porque não soube dar respostas às crises política e econômica. Esse é o papel que cabe a Temer.
A antiga oposição, que está bem representada no governo, perdeu a eleição de 2014. As propostas dela não foram as mais votadas. Temer cometerá um erro se permitir uma guinada de 180 graus em determinadas áreas, sobretudo na social.
Ele deve se concentrar no combate à crise econômica. Até agora, sobraram palavras e faltaram medidas concretas. A justificativa para formar um ministério conservador e sem diversidade foi que essa equipe lhe daria votos no Congresso.
Foi escolhido para líder do governo na Câmara o deputado federal André Moura, do PSC de Sergipe, um dos líderes da tropa de choque de Eduardo Cunha e representante da nata do conservadorismo no Congresso. Temer precisa cobrar esses votos. Precisa cobrar essa fatura política de deputados e senadores.
Nessa fatura, certamente deveria estar uma reforma da Previdência que não penalize os mais pobres. Também decidir logo se vai propor ou não a recriação da CPMF. Quanto mais demora, mais crescem as resistência a essa possibilidade.
Sem aumentar impostos, infelizmente, não será possível reerguer a política fiscal. É importante cortar gastos e reduzir o ritmo de crescimento das despesas públicas. Por ora, houve o anúncio de um corte 4 mil cargos comissionados até o fim do ano. É uma economia insignificante diante do buraco nas contas públicas.
Desde a votação na Câmara em 17 de abril, estava clara a possibilidade de Temer chegar ao poder. Ele teve algumas reuniões com Henrique Meirelles antes de assumir a Presidência. Há medidas econômicas no forno. É necessário colocá-las logo na mesa. É preciso ter mais pressa nas respostas econômicas.
A nova equipe econômica foi bem recebida, mas já há ansiedade no mercado financeiro e entre os empresários para que o novo governo mostre ao país as suas propostas nessa área.

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