Pular para o conteúdo principal

O que fazer com Jucá?


Seu desempenho deve ter deixado ruborizado aquele que a gente achava ser imbatível em matéria de cinismo, Eduardo Cunha
Zuenir Ventura - O Globo
Para quem chegou dizendo que tinha pressa e não podia errar, não foi um bom começo, pois em 12 dias de governo Michel Temer mostrou-se lento e hesitante em decisões importantes. A estreia desse estilo foi no episódio do Ministério da Cultura, que ele extinguiu, recuou e, em seguida, recuou do recuo para, finalmente, recriá-lo.
Tudo bem que, ao contrário de Dilma, ele reconhece os erros e volta atrás. Mas o melhor seria não precisar voltar atrás. Agora, foi o caso Romero Jucá, um risco previsível por seu envolvimento em desvios de recursos da Petrobras e que acabou virando não apenas um erro, mas um escândalo.
O presidente interino levou um dia inteiro não para demitir seu ministro do Planejamento, mas para esperar que ele resolvesse se “licenciar”, quando a leitura na “Folha” da transcrição de sua conversa já seria mais que suficiente para dispensá-lo.
Preferiu dar mais uma chance ao seu colaborador de se defender numa entrevista coletiva. Foi pior, porque ele demonstrou ao país como era capaz de mentir. Seu desempenho deve ter deixado ruborizado aquele que a gente achava ser imbatível em matéria de cinismo, Eduardo Cunha.
Usando a esperteza, Jucá baseou sua contundente defesa na alegação de que o jornal pinçara frases que, fora do contexto, ganhavam outro sentido, diferente do que dissera. Por exemplo, onde se lia “tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria”, ele explicava aos jornalistas que era a “sangria da economia”, não da Lava-Jato. E assim por diante.
Confiando na sua estratégia, desafiou a “Folha” a publicar as frases dentro do contexto. O jornal aceitou, e o resultado foi desastroso para Jucá. Ficava provado que de fato ele combinava com seu interlocutor (ou comparsa?), o ex-senador Sérgio Machado, também investigado, um “pacto” nacional incluindo até o Supremo Tribunal Federal.
Aí, com certeza, Jucá blefava, ao afirmar que “já tinha conversado com alguns ministros do STF” e estava conversando com os generais, comandantes militares. “Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir”. Só não blefava na sua intenção de acabar com a Lava-Jato, uma vontade que, convenhamos, deve ser compartilhada no Ministério por outros alvos da operação comandada por Sérgio Moro.


Com essas descobertas explosivas, resta saber o que fazer com um senador que, como ministro, foi flagrado propondo, entre outras coisas, a obstrução da Justiça? Por muito menos, o ex-senador Delcídio Amaral foi preso, cassado e expulso da vida pública por oito anos. Aliás, ele fez ironia: “Meu caso perto desse parece a Disney”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mapa das facções em presídios brasileiros

Governo sanciona Lei de Diretrizes Orçamentárias 2018

Do G1 O governo sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018 com mais de 40 vetos. O texto, os vetos e as exposições de motivos que levaram a eles foram publicados na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União. A LDO de 2018 foi aprovada no mês passado pelo Congresso Nacional contemplando um rombo primário nas contas públicas de R$ 131,3 bilhões para 2018, dos quais R$ 129 bilhões somente para o governo federal. O conceito de déficit primário considera que as despesas serão maiores do que as receitas sem contar os gastos com o pagamento de juros da dívida pública. A LDO também traz uma estimativa de salário mínimo de R$ 979 para 2018, um aumento de 4,4% em relação ao salário mínimo em vigor neste ano, que é de R$ 937. Entre outros indicadores, a LDO prevê um crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% em 2018. A inflação estimada é de 4,5% e a taxa básica de juros deve ficar, segundo a proposta, em 9% na média do próximo ano. Mais de 40 v

Dólar opera em alta e bate R$ 4,40 pela 1ª vez na história

No ano, o avanço chega a quase 10%. Na quinta-feira, moeda dos EUA fechou vendida a R$ 4,3917. O dólar opera em alta nesta sexta-feira (21), batendo logo na abertura, pela primeira vez na história, o patamar de R$ 4,40. Às 10h52, a moeda norte-americana era negociada a R$ 4,3940 na venda, em alta de 0,05%. Na máxima até o momento chegou a R$ 4,4061.  Veja mais cotações . Já o dólar turismo era negociado a R$ 4,5934, sem considerar a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Na sessão anterior, o dólar encerrou o dia vendida a R$ 4,3917, em alta de 0,61%, marcando novo recorde nominal (sem considerar a inflação) de fechamento. Na máxima do dia, chegou a R$ 4,3982 – maior cotação nominal intradia até então, segundo dados do ValorPro. A marca de R$ 4,40 é o maior valor nominal já registrado. Considerando a inflação, no entanto, a maior cotação do dólar desde lançamento do Plano Real foi a atingida no final de 2002. Segundo a Economatica, com a correção