Mary Zaidan
Pagamento por fora, não contabilizado e não declarado, vulgo caixa dois. O depoimento de João Santana ao juiz Sérgio Moro trouxe de volta a desculpa-chave do petismo para toda sorte de ilegalidades. Ainda que tenha admitido erros, o marqueteiro o fez com a ressalva de que o ilícito é prática corrente no mercado. Mais: complicou de vez a vida de sua ex-chefe Dilma Rousseff.
Em 2005, Duda Mendonça, de quem Santana foi sócio, expressou discurso semelhante. Na CPI dos Correios disse, com lágrimas nos olhos, que recebera R$ 10,5 milhões de Marco Valério, no exterior. “Esse dinheiro era claramente caixa dois, nós sabíamos, mas não tínhamos outra opção para receber”.
Absolvido pelo Supremo, Duda se livrou do Mensalão e, de quebra, salvou Lula ao garantir que o então presidente desconhecia o ocorrido.
Onze anos depois e milhões de dólares a mais, Santana dificilmente terá a mesma sorte. Para obter algum alívio terá de falar mais. E, como ficou provado em seu primeiro depoimento, cada vez que abrir a boca criará maiores embaraços para Dilma e o PT.
Depois de ele e sua mulher, Mônica Moura, terem mentido sobre a origem de US$ 4,5 milhões depositados em uma conta da offshore do casal na Suíça, Santana não só confirmou que o dinheiro era fruto de caixa dois, como usou Dilma para justificar o drible na polícia. Diante de um processo de impeachment ainda no nascedouro, disse que temia criar complicações políticas para aquela que ele ajudara eleger.
Com isso, o marqueteiro que sempre se julgou um estrategista imbatível conseguiu o inimaginável: adicionar mais um ingrediente à previsível derrota que Dilma colherá no Senado. E incluí-la, de forma definitiva, nas investigações da Lava-Jato. Na fase mais aguda, quando ela já não terá mais privilégio de foro.
Não por outro motivo, Dilma apressou-se em alterar seu discurso sobre caixa dois. Se antes afirmava, peremptoriamente, que a prática não chegou perto de suas campanhas, a pregação agora ganhou outro tom: “se houve pagamento, não foi com meu consentimento”. Uma pequena diferença, que pode ou não salvar a sua pele.
Santana e Mônica também jogaram querosene na fogueira que há mais de ano queima João Vaccari. O tesoureiro do PT, que teria articulado os pagamentos para o casal, aparece em quase todas as vertentes da Lava-Jato, além das confusões da Bancoop, cooperativa falida que iniciou a construção do tríplex do Guarujá, reformado pela OAS de Léo Pinheiro para Lula, mas que o ex diz que não queria mais.
Vitorioso em sete eleições presidenciais no Brasil e além das fronteiras – Lula e duas vezes Dilma, Maurício Funes (El Salvador), Danilo Medina (República Dominicana), José Eduardo dos Santos (Angola), Hugo Chávez e Nicolás Maduro (Venezuela) –Santana confessou que acreditava na impunidade – “não imaginava que pudesse ser preso”. E contava com a possibilidade de ser anistiado, repatriando o dinheiro ilícito que estava “hibernado” em uma conta não declarada, existente há 20 anos.
A prisão dele e de sua mulher em fevereiro impediu que o casal usufruísse da Lei 12.254, sancionada por Dilma em janeiro, mas que só passou a vigorar em abril. Evitou-se assim que, legalmente, se lavasse a sujeira.
Acerta Santana ao afirmar que “o marketing eleitoral não cria corrupção, não corrompe, e não cobra propina”. Mas está longe de ser “consequência de um sistema eleitoral adulterado distorcido em sua origem”, como quer fazer crer o marqueteiro.
É bandidagem mesmo. E das grossas.
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