Janio de Freitas – Folha de S.Paulo
O governo está imóvel. E não quer se mexer. Sob a proteção de imprensa e TV dopadas com tranquilizantes, o grupo de Michel Temer fala, recebe simpatia, não faz e não é cobrado.
Nenhuma das medidas com alguma importância, propaladas sem cessar em mais de dois meses, teve os primeiros passos efetivados. Nada do anunciado sequer passou da garganta para o papel: não se sabe de um só projeto, entre os temas de razoável expressão, que já esteja esboçado para discussão ao menos nos ministérios interessados.
No país das urgências, a paralisia administrativa é intencional. Pedida mesmo, como norma geral, por Temer e por Eliseu Padilha, que é quem, de fato, tem nas mãos as rédeas do governo –cabendo a Geddel Vieira Lima as relações políticas e a Temer sentar-se na cabeceira. E o ministro do novo milagre brasileiro? Henrique Meirelles entrou ocupando as páginas e telas, mas o seu estilo Antonio Palocci, de falar sem dizer, esgota-se com a repetição do vazio, além de verbal, operacional. Ainda que possa ter alguma perplexidade, não tem culpa de que o seu ministério seja uma grande casa de repouso.
Algumas vezes foi dito que Temer & cia. esperavam a definição da Câmara sobre Eduardo Cunha, já aos tombos. A Olimpíada passou a ser a explicação: entra-se em um momento especial, tenso e festivo, sobretudo tumultuoso. Mas a origem do marasmo é outra: está em interesse pessoal de Temer e no interesse político dos instalados no Poder. Os problemas do país são do país e da população; o deles é assegurar o impeachment de Dilma Rousseff.
Logo, é preciso imobilizar-se para combinar os cuidados contra três possíveis fontes de reação a Temer & cia.. A "base parlamentar" considerada capaz de votar as reformas propaladas é, mais ainda, capaz de reação que se reflita contra o impeachment caso lhe exijam decisões impopulares, em época eleitoral.
Na mesma linha, os prefeitos atuais e os candidatos ligados à base, em especial os numerosos do PMDB, não querem pagar nas ruas e nas urnas pela indignação de contingentes eleitorais, atingidos pelas reformas. Por fim, reformas da Previdência, da legislação trabalhista, da demarcação de terras indígenas, e outras desse quilate, por vocação e por interesse político de Temer têm que ser do agrado do poder econômico. O que significa perda e exasperação de grande massa a um só tempo eleitoral e mobilizável, como reação, contra o impeachment. Ou pelo impeachment simultâneo de Dilma e Temer, que o ministro Gilmar Mendes –é o esperado– fará o impossível para evitar. O imobilismo é deliberado.
O "Drive Premium", informativo tão sucinto quanto eficiente de Fernando Rodrigues e equipe, captou a maneira como Michel Temer encerrou, nesta semana, uma reunião ministerial que, para efeito público, examinaria as tais reformas: "Em duas semanas, voltamos à análise dessas propostas". A única decisão tomada foi a de continuar nada decidindo. Para que não faltasse um registro marcante, Geddel Vieira Lima atirou uma gozação ácida contra José Serra, e pronto.
Mais 15 dias? A imobilidade enroladora permanecerá mais do que de 13 de maio até hoje. No mínimo, até a eleição: quase cinco meses em que as migalhas de melhoria da situação vêm, na verdade, dos três meses anteriores ao afastamento de Dilma. Se a decisão do impeachment ultrapassar a eleição, o imobilismo não tem prazo previsível. Mas a imprensa e a TV servem também para eventualidades assim.
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