A presidente afastada, Dilma Rousseff, faz sua defesa no Senado durante julgamento do impeachment
Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Nos estertores do processo de impeachment, Dilma Rousseff poderia tocar fogo no circo ou tentar apagar o incêndio. Escolheu o caminho do meio. Evitou confrontar os senadores, mas também não se curvou para pedir clemência.
Parte da esquerda torcia para ela espalhar gasolina e riscar o fósforo. Sem nada a perder, Dilma poderia abrir a caixa-preta do governo e constranger dezenas de ex-aliados que mudaram de lado. Seria um espetáculo interessante, mas sem chances de dar certo. A presidente conflagraria o plenário e se jogaria na fogueira com um sorriso no rosto.
Outros aliados sugeriram que ela abaixasse a cabeça, pedisse desculpas e evitasse falar em golpe. A fala se transformaria num ato de penitência, se possível temperado com lágrimas. Talvez funcionasse com outra personagem. Na pele de Dilma, soaria apenas falso e artificial.
Ao optar pelo meio-termo, a presidente indicou que não tinha mais esperança de virar votos, mas conseguiu deixar sua versão sobre o impeachment.Defendeu sua biografia, negou ter cometido crime e se disse vítima de um golpe parlamentar. Como ela manteve o tom respeitoso, ninguém ousou interrompê-la.
Dilma apontou o dedo para três algozes: Eduardo Cunha, Aécio Neves e Michel Temer. Só precisou mencionar o nome do deputado afastado. Todos entenderam a quem ela se referia quando falou em maus perdedores e companheiros desleais.
Sem vocação para a autocrítica, a presidente insistiu em culpar o cenário externo pela ruína econômica deixada por seu governo. Também driblou os fatos quando omitiu o envolvimento do PT em escândalos e tentou responsabilizar a oposição por suas derrotas no Congresso.
Apesar das omissões, Dilma demonstrou coragem ao ir ao Senado. Em vez de se esconder, ela escolheu cair de pé, na esperança de ser absolvida pela história. É significativo que muitos dos aliados que a abandonaram tenham preferido o silêncio.
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