A fala da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), em defesa do seu mandato, ontem, na sessão do seu julgamento, foi muito mais um ataque ao Congresso e não terá nenhuma chance de mudar o voto de algum parlamentar indeciso. Dilma reiterou a seus oponentes que eles estariam cometendo um golpe para tirá-la do poder. A petista afirmou que votar contra o impeachment seria votar pela democracia.
Dilma insistiu que não cometeu crime e disse estar orgulhosa por ter sido fiel ao compromisso com a nação. Sua fala apaixonada não fará efeito algum. A maré das opiniões está contra ela, e sua aparição é amplamente considerada como sua última fala pública. Foi um discurso retoricamente bem elaborado, mas não teve a consistência da verdade. Os argumentos expostos já são conhecidos e já foram contestados ao longo do debate em todas as instâncias em que o impeachment foi discutido no Congresso.
Tecnicamente, com base no que tange às acusações que sustentam a acusação, não conseguiu convencer. Seu discurso seguiu as orientações em torno das teses da defesa, uma peça escrita, que soube fazer bom desempenho da leitura, mas nas respostas usou um script ensaiado. Como disse o senador Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, as perguntas sobre decretos ou pedaladas, que se repetiram, tiveram a mesma resposta, sem sair do roteiro previamente ensaiado.
Na verdade, ela não apresentou defesa, foram desculpas e justificativas lastreadas na crise internacional. Ela se ancorou na crise para tentar apresentar a defesa, mas justificativas e desculpas não servem como defesa. Foi, como disse a senadora Simone Tebet (PMDB-MT), muito mais um libelo acusatório ao Congresso do que uma defesa. Dilma usou a velha tática do jogo de futebol, que diz que a melhor defesa é o ataque.
Dilma não convenceu da acusação de ter infringido a lei de responsabilidade fiscal e de ter maquiado as contas públicas - acrobacia financeira chamada de pedaladas fiscais. Sua fala, portanto, não reverte um só voto. Petistas reconheceram, logo após a sua defesa, que não há mais condições de reverter o placar do impeachment.
O clima é de pessimismo entre os interlocutores mais próximos da presidente afastada. Até mesmo a movimentação recente do ex-presidente Lula, que esteve em Brasília na sexta-feira e jantou no domingo com Dilma, não surtiu o efeito esperado. Lula não conseguiu reverter os votos necessários. Segundo um senador do PT, sem a caneta na mão, a missão se tornou praticamente impossível, numa referência à negociação de cargos e ministérios. "Não tínhamos nada que oferecer".
Segundo integrantes do PT, a presença de Lula em Brasília serviu muito mais como gesto de solidariedade a Dilma. "Lula não quis passar a impressão de que estava abandonado a sua sucessora", disse um senador petista.
TRANQUILIDADE – O presidente em exercício Michel Temer (PMDB) acompanhou a defesa da presidente afastada do seu gabinete e disse que está tranquilo em relação ao desfecho do processo que, certamente, culminará com a cassação da petista. “Eu acompanho com absoluta tranquilidade. Sou obediente às instituições e espero o que o Senado Federal venha a decidir", disse Temer, logo após receber em seu gabinete medalhistas que representaram o Brasil nas Olimpíadas do Rio. Temer jantou, ontem, com líderes da sua base aliada para fazer uma avaliação da defesa de Dilma e da votação do impeachment, que começa hoje e só deve acabar na madrugada de amanhã.
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