Uma manifestação que estava para ser pacífica, ontem, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, promovida pelas Forças Sindicais e os movimentos sociais, degringolou à violência, vandalismo, desrespeito, na agressão ao patrimônio público, na ameaça às pessoas, muitas delas servidoras que se encontravam trabalhando. Os manifestantes (ou baderneiros) quebraram vidros e invadiram as portarias dos prédios na Esplanada. Houve registro de incêndio na área interna dos ministérios da Agricultura, do Planejamento e da Cultura, mas, segundo o Corpo de Bombeiros, as chamas não deixaram feridos.
Em meio à bagunça, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, informou que o presidente Michel Temer decretou a "ação de garantia da lei e da ordem" e, com isso, tropas federais passariam a reforçar a segurança na região da Esplanada dos Ministérios. De acordo com estimativa da Central Única dos Trabalhadores (CUT), os atos reuniram 200 mil manifestantes durante todo o dia. Até as 15h30, a Secretaria de Segurança Pública estimava público de 35 mil pessoas no ápice dos protestos.
Manifestantes com rosto coberto foram fotografados no térreo do Ministério da Agricultura ateando fogo no prédio. As chamas foram extintas cerca de 40 minutos depois. Segundo o Corpo de Bombeiros, o tumulto dificultou o acesso dos carros para combater as chamas. O fogo atingiu o auditório no andar térreo, e fotos de ex-ministros foram quebradas. A Tropa de Choque entrou no prédio para evitar o avanço da depredação.
O térreo do Ministério do Planejamento também foi atingido pelas chamas. Imagens pela TV mostravam que uma sala da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), que fica no edifício, também foi destruída. Segundo os bombeiros que atuaram no local, havia risco de desabamento do forro do teto. No Ministério da Cultura, manifestantes também atearam fogo em estruturas da área interna. O prédio também é sede do Ministério do Meio Ambiente.
Com roupas vermelhas, brancas e amarelas, manifestantes estiraram uma bandeira com as cores do Brasil na pista ao lado do Congresso. Eles também tacaram fogo em alguns objetos criando mini fogueiras. A fumaça subiu a uma altura maior que a dos ministérios, mas o Corpo de Bombeiros rapidamente chegou ao local para controlar o fogo. Os manifestantes também derrubaram banheiros químicos no meio da pista.
A intervenção do Exército provocou uma grande reação, porque o decreto tem validade por oito dias. O clima esquentou entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (PMDB-RJ), e o ministro da Defesa, Raul Jungmann. Mais cedo, Jungmann disse que Maia havia pedido a intervenção das Forças Armadas diante da violência dos manifestantes na Esplanada dos Ministérios.
A informação chegou aos deputados da oposição, que rapidamente começaram a cobrar explicações, o que culminou em uma briga generalizada entre oposicionistas e integrantes da base no plenário. Maia disse que o pedido se referia apenas ao prédio do Legislativo. “O pedido de apoio da Força Nacional foi para o prédio da Câmara e no seu entorno. Se o Governo decidiu adotar outra medida, essa outra medida é uma responsabilidade do governo”, reagiu Maia.
EXPLICAÇÃO DE JUNGMANN– Do ministro Raul Jungmann sobre o decreto colocando as tropas federais nas ruas de Brasília: “O decreto é baseado no artigo 142 da Constituição. Nós fizemos isso nas Olimpíadas, duas vezes no Espírito Santo, no Rio de Janeiro, em Pernambuco e no Maranhão. É a mesma operação de agora. As Forças Armadas são acionadas quando as forças locais não têm mais condições de cumprir a ordem. E é o que está acontecendo. Os prédios públicos estão sendo depredadas, as pessoas estão desesperadas. Isso é inadmissível. O Exército não está envolvido em repressão. Foi para as ruas para liberar as forças locais de segurança possam cuidar das manifestações. O pedido partiu do Rodrigo Maia e o presidente Temer atendeu”.
Sem convocação– O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), rejeitou pedido do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para convocar o Congresso Nacional. Randolfe solicitou a reunião conjunta para que os parlamentares discutissem e sustassem o decreto do presidente Michel Temer que mandou tropas federais para conter manifestações em Brasília. “O decreto não se baseia no estado de defesa. A lei complementar 97 permite que ele [Temer] possa fazer [o que fez]. Nesse caso colocado pelo presidente da República não cabe à manifestação expressa do Congresso Nacional. Não está previsto na Constituição. Portanto, tenho que indeferir a questão de ordem de vossa excelência”, explicou Eunício.
Apuração de gravação– jornalista Reinaldo Azevedo pediu, ontem, ao Supremo Tribunal Federal, a apuração da divulgação de uma conversa dele com Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Ele afirmou que teve conversas "interceptadas e divulgadas indevidamente, em franca violação à Constituição Federal". Segundo o texto do pedido, "devem-se tomar as providências necessárias para se apurar os fatos". A conversa, sem nenhuma ilegalidade, continha críticas do jornalista à revista "Veja", onde Azevedo trabalhava, o que levou ao pedido de demissão do jornalista. A publicação da conversa provocou protestos de jornalistas e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
A espera da perícia– A Polícia Federal procurou a defesa do presidente Michel Temer para saber quando o peemedebista deve dar depoimento. Imediatamente, os advogados do presidente encaminharam ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o pedido para que suspenda a realização de qualquer depoimento antes da conclusão da perícia dos áudios gravados pelo empresário Joesley Batista, delator da JBS. Os advogados Antônio Claudio Mariz de Oliveira e Gustavo Guedes pedem, também, que “se o Presidente da República for ouvido deverá sê-lo em ato presidido por Vossa Excelência (Fachin) ou responder por escrito quesitos adredemente elaborados”.
Temer não renuncia– O presidente Michel Temer repetiu a senadores do PMDB, durante reunião, ontem, que só deixará a Presidência quando seu mandato terminar. Ele disse aos senadores que vai ficar até dia 31 de dezembro de 2018. Na reunião, o líder do Governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), aproveitou para criticar o senador Renan Calheiros, que é líder do PMDB no Senado. Jucá disse que Renan não o representa nem representa a maioria da bancada. E pediu uma nova reunião para discutir a situação da bancada. O senador Jader Barbalho (PMDB-PA), por sua vez, fez críticas ao Ministério Público e à delação da JBS, defendendo a criação de uma CPI.
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