Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
A crise que emparedou o governo atingiu um novo patamar nesta quarta. O primeiro grande protesto pela saída de Michel Temer se transformou em batalha campal na Esplanada. Com Brasília em chamas, o presidente fez uma aposta arriscada e pôs o Exército na rua. A medida acirrou os ânimos no Congresso, onde voltou a haver tumulto e gritaria por renúncia ou impeachment.
O confronto entre manifestantes e a PM se estendeu por quase quatro horas. Militantes depredaram prédios públicos, e policiais atiraram com armas letais, em flagrante de uso desproporcional da força.
A tensão transbordou para o Congresso, onde a ordem do Planalto era manter "clima de normalidade". Sob pressão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, suspendeu as votações e pediu reforço na segurança externa. Essa foi a senha para a tentativa de contra-ataque do governo.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, discursou contra a "baderna" e disse ter convocado o Exército a pedido de Maia. O plenário voltou a ferver, e o deputado desmentiu o ministro: só havia solicitado a presença da Força Nacional de Segurança.
O apelo aos militares criou novas arestas para Temer. Além de irritar seu principal aliado no Congresso, a medida motivou protestos da oposição, do governador de Brasília e de um ministro do STF, que criticou a ideia em plena sessão de julgamento.
Até senadores que votaram a favor do impeachment de Dilma Rousseff engrossaram o coro. "O presidente Temer está cometendo uma insensatez", lamentou Cristovam Buarque. Para outros políticos, o Exército na Esplanada evocou memórias da ditadura, como a repressão ao povo durante a votação das Diretas, em 1984.
Ao recorrer aos militares, Temer pode recuperar algum apoio entre setores de ultradireita que sonham com uma saída autoritária. Ao mesmo tempo, ele demonstra sua fragilidade. "Não serão as Forças Armadas que vão sustentar este governo", debochou o ex-aliado Renan Calheiros.
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