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Irmã de Aécio pediu para JBS comprar imóvel


Em delação à Procuradoria Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista, dono da JBS, informou que Andrea Neves, irmã do senador afastado Aécio Neves, o procurou pedindo para que ele comprasse o imóvel onde mora a mãe deles, no bairro de São Conrado, no Rio. Segundo reportagem do “Fantástico”, Andrea ofereceu a cobertura duplex ao delator por R$ 40 milhões. O valor seria o dobro do que se estima no mercado.
“O dia que a Andrea me procurou, ele (Aécio) me pediu esses dois milhões e me pediu e falou que precisava de outros 40 milhões. E que os R$ 40 milhões a mãe dela tinha um apartamento no Rio de Janeiro, se eu não queria comprar esse apartamento... Pra poder... E parece que o apartamento existe. Eu não sei se vale os R$ 40 milhões. Mas aí eu nem fui lá, nem nada”, disse Joesley.
Um dos procuradores que tomou o depoimento de Joesley perguntou se ele sabia de quem era o imóvel. “Seria da mãe dela. Onde a mãe dela mora. Da mãe deles”. O procurador insiste no assunto: “E eles estavam precisando de R$ 40 milhões?”. O empresário responde: “Sugeriram que eu comprasse o apartamento da mãe com R$ 40 milhões”.
O “Fantástico” consultou 12 corretores de imóveis do Rio e nenhum deles considerou que o apartamento valeria mais que R$ 20 milhões. “Eu acho que não cabe R$ 40 milhões naquela região que a gente está falando. Eu acho absurdo”, disse o corretor Renato Moura ao programa da TV Globo. O imóvel, com piscina e vista para o mar, tem condomínio mensal de R$ 18 mil.
Nota confirma proposta
Em nota ao “Fantástico”, a assessoria do senador informou que o “imóvel é uma cobertura duplex de 1,2 mil metros quadrados avaliado entre R$ 35 milhões e R$ 40 milhões”. A assessoria diz ainda que o apartamento pertence a “uma pessoa jurídica de propriedade exclusiva da mãe do senador”. A nota confirma a proposta feita por Andrea a Joesley e diz que a propriedade é da família há mais de 30 anos, e foi avaliada por corretores autorizados.
A assessoria apresentou uma avaliação do imóvel por R$ 36 milhões feita por uma corretora de São Paulo. O site da secretaria municipal de Fazenda faz simulações dos valores de imóveis na cidade. A partir do endereço e o número de inscrição do IPTU, é possível estimar o valor de um imóvel. Para o apartamento, o site informou o valor de R$ 15 milhões, ainda segundo o “Fantástico”.
Num vídeo divulgado na semana passada, Aécio Neves se defendeu das acusações de que pretendia usar o apartamento como forma de receber propina. “Fiz isso porque não tinha dinheiro. Não fiz dinheiro na vida pública. E eu reafirmo aqui: não cometi qualquer crime”, diz o senador.
Prédio em Belo Horizonte
Um outro prédio também teria sido usado no esquema envolvendo o senador do PSDB. Ainda segundo delação de Joesley Batista, um imóvel em Belo Horizonte foi comprado pelo grupo JBS como parte de uma negociação para repassar dinheiro a Aécio. “Em 2015, ele (Aécio) seguiu precisando de dinheiro, e eu acabei, através da compra de um prédio, não sei como, lá em Belo Horizonte, por R$ 17 milhões. Esse dinheiro chegou nas mãos dele. E depois, no ano seguinte, em 2016, ele dizendo que esses R$ 17 milhões eram para pagar restos de campanha, e tal”, disse o empresário.
O prédio, onde funcionou a sede do jornal “Hoje em Dia”, ocupa dois terrenos com números diferentes, segundo a reportagem. Os registros apontam R$ 18 milhões como valor de compra. Assim como o apartamento no Rio, o valor do prédio em Belo Horizonte estaria superfaturado.
Em sua delação, o executivo da JBS Ricardo Saud disse que Aécio “virou uma sarna” em cima do Joesley. “Esse prédio (em Belo Horizonte) é o seguinte. O Aécio, desculpa a palavra, virou uma sarna em cima do Joesley. Ficava ligando ele, a irmã, o primo. Pra mim, pro Joesley, 24 horas, (dizendo) que ele saiu da campanha devendo demais, que precisava acertar a vida dele, que estava com dificuldade muito grande, que não tinha como não fazer e tal”, disse o delator.
O procurador quis saber, então, se Aécio pedia dinheiro. Saud foi direto: “Pedindo dinheiro, dinheiro, dinheiro, propina. Dinheiro não, propina, propina, propina”. Segundo o “Fantástico”, o grupo liderado por Joesley Batista não está usando o imóvel, que permanece fechado.
Documentos apresentados pelo programa mostram que o processo de compra e venda não seguiu os padrões que se espera de uma negociação envolvendo milhões de reais. “Antes da venda, o prédio era alvo de uma sequência de penhoras devido a pendências trabalhistas da Ediminas, dona do jornal “Hoje em Dia”.
“Se observa um imóvel de alto risco porque tem várias ações contra a empresa vendedora. Seria comum um pagamento com valor inferior a R$ 18 milhões”, disse ao “Fantástico” Kênio Pereira, presidente da comissão de Direito Imobiliário da seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG).
Segundo Joesley, a compra foi feita a pedido de uma pessoa ligada ao senador tucano. Perguntado na PGR o que funcionaria neste prédio atualmente, Saud disse: “Nada, está lá tentando vender pela metade do preço, não vende.. Está à venda, nós não precisava (sic) dele nada. Foi única e exclusivamente para atender um pedido do senador Aécio”.
Em nota, Aécio disse desconhecer a compra ou venda do prédio, “e que são falsas as declarações dadas por Joesley Batista”. Na escritura de compra e venda, a empresa dona do prédio foi representada por Flávio Jacques Carneiro e Antonio Carlos Tardelli. Por e-mail, informaram ao programa que não houve superfaturamento nem repasses de valores a Aécio. 
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