Do El País - Gil Alessi e Rodolfo Borges
Ex-presidente deixou de dar secretaria a Aécio Neves por receio de reação do PMDB
"Essa base de apoio eu a estendi depois das eleições e peguei o PMDB (...), e vejo assim o futuro também. Seja eu o presidente ou outro (...), ninguém vai poder governar o Brasil sem ampla base de apoio." A frase poderia ter sido dita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou por sua sucessora, Dilma Rousseff, mas se trata de um trecho das memórias do tucano Fernando Henrique Cardoso.
O livro, Diários da Presidência, que será lançado este mês pela Companhia das Letras, abrange os dois primeiros anos do Governo de FHC, de 1995 a 1996. "É melhor que ele [PMDB] se fortaleça nas mãos de gente que não seja um caudilho local", afirma o tucano.
Já naquela época o partido que hoje tem a mandatária petista na palma de sua mão – com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de caneta em punho e a autoridade de aceitar ou não pedidos de impeachment contra ela – era o fiel da balança. A ponto de Fernando Henrique deixar de fazer nomeações para não irritar os peemedebistas: “Aécio [Neves, então deputado federal] (...) queria saber se, como não vai ser candidato a prefeito [de Belo Horizonte], poderia ir para o lugar do Cícero Lucena [secretário de Integração Regional]”.
De acordo com o relato do tucano, o pedido foi negado, sob a justificativa, entre outras coisas, de que a nomeação “vai criar um problema com o PMDB e tudo mais”. Quase como um consolo para o parlamentar, FHC emenda que “aquela secretaria não tem muito significado, e não há sentido em tê-la por compensação”. O hoje senador Aécio Neves, em diversas passagens do livro, é tratado apenas como “Aecinho”.
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