Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Ao fim de um ano de duelo em praça pública, Dilma Rousseff e Eduardo Cunha chegaram juntos a seu momento mais dramático. No mesmo dia, os dois sofreram ontem duras derrotas na luta pela sobrevivência política.
A Procuradoria-Geral da República pediu que o deputado seja afastado da presidência da Câmara. Ele já preparava outra manobra para anular a sessão do Conselho de Ética que instaurou, finalmente, o processo que pode cassar o seu mandato por quebra de decoro.
O Ministério Público sustenta, com razão, que a permanência de Cunha ameaça as investigações da Lava Jato e ataca a "dignidade do Parlamento brasileiro". Como a Câmara já demonstrou que não terá a dignidade de despachá-lo por conta própria, tornou-se necessário apelar ao Supremo Tribunal Federal.
A Procuradoria também apresentou duas novas delações contra o peemedebista. Ele agora é acusado de cobrar propina de R$ 52 milhões para liberar repasses às obras do Porto Maravilha, no Rio. O dinheiro saía do FI-FGTS, ou seja, da poupança do trabalhador assalariado.
Na mesma quarta-feira, o Supremo indicou que deve dar sinal verde ao processo de impeachment que o correntista suíço instaurou contra Dilma. O voto do relator Luiz Fachin frustrou o governo, que contava com a corte para livrar o pescoço presidencial da guilhotina.
Fachin validou o roteiro traçado por Cunha, incluindo a votação secreta que elegeu a comissão que discutirá o impeachment na Câmara. Se os demais ministros apoiarem seu voto, o colegiado será dominado pela oposição e produzirá um relatório pela cassação da presidente.
Dilma e Cunha querem se ver pelas costas, mas agora parecem caminhar lado a lado na direção do abismo. Enquanto os brasileiros se esforçam para driblar a crise e comprar presentes, a presidente e o deputado têm chances cada vez menores de comemorar um feliz Natal.
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