Pular para o conteúdo principal

O que une Lula a Renan


Ricardo Noblat
Renan Calheiros é tudo, menos bobo. Enquanto mereceu a confiança de Michel Temer, disse-lhe coisas impublicáveis sobre Dilma. Tão logo achou mais vantajoso trocar de lado, aliou-se à Dilma e contou-lhe o que ouviu de Temer. Estaria bem se não estivesse encrencado na Lava-Jato. Responde a seis inquéritos contra três de Eduardo. Mas os de Eduardo nós conhecemos bem; os de Renan, pouco. Por que será?
Lula é tudo, inclusive bobo quando lhe interessa. À Polícia Federal, em depoimento na semana passada, confessou que lhe passaram a perna mais uma vez como já acontecera no caso do mensalão. Nomeou, sim, os diretores que roubaram a Petrobras, mas nada teve a ver com a sua indicação. Foram indicações políticas bancadas pelos chefes da Casa Civil dos seus dois governos, José Dirceu e Dilma Rousseff.
É aqui que Renan e Lula se encontram, porém não só. Se precisar, traem a pretexto de que a política real se faz também com traições. De outra forma ela não seria possível. E em defesa de suas biografias, entregam sem remorsos os que lhes serviram com lealdade. A entrega é mais especialidade de Lula do que de Renan, e marca notável de sua trajetória política.
A situação de Renan é pior do que a de Lula. Ele é investigado pela Lava Jato. Lula, por ora, não passa de informante. Renan é acusado de ter recebido propina em negócios da Petrobras.
Lula de nada é acusado. É suspeito de muita coisa. Mas ninguém diz que é. O juiz Sérgio Moro costuma dizer que não investiga pessoas, mas fatos. Por meio deles chega às pessoas. Cuide-se, Lula!
Embora no olho do furacão, Renan imagina salvar-se do pior, que seria a cassação do seu mandato seguida de prisão, buscando o apoio de Dilma. Um precisa do outro. Renan pode barrar no Senado o pedido de impeachment. Mas Dilma nada pode garantir a Renan, nem mesmo um telefonema para Moro. Talvez garanta que o governo o ajudará a preservar o mandato.
Por Lula, Dilma e o ministro da Justiça têm agido às sombras. Há pouco mais de 10 dias, o ministro voou de madrugada a Curitiba e, ao chegar, logo se reuniu com agentes da Polícia Federal.
Estava preocupado com Lula e com um dos filhos dele que embolsou mais de R$ 2 milhões para copiar textos da internet a título de consultoria prestada a uma empresa. O que o ministro disse e ouviu não se sabe.
Em seguida, foi Lula que voou a Brasília para depor em segredo. O que ele disse e ouviu já se sabe. O que disse serviu para reforçar os traços mais perversos do seu caráter – ou da falta dele.
José Dirceu perdeu o emprego, o mandato de deputado e a liberdade para que Lula continuasse no poder como o presidente enganado pela organização criminosa que se apoderou de parte do aparelho do Estado.
Nem por isso Lula deixou de entregá-lo pela segunda vez – desta no caso do assalto à Petrobras. Por tabela entregou Dilma, que substituiu Dirceu na Casa Civil.
Outro dia, ele já havia entregado Dilma no caso de três Medidas Provisórias suspeitas de terem sido compradas para beneficiar a indústria automobilística. Lula disse que não as assinou. Mentiu. Assinou uma delas, e Dilma as outras.
Se doravante o impeachment for ladeira a baixo, Renan e Lula ajudarão a enterrá-lo. Do contrário, Renan o levantará como o capitão do time que celebra a conquista de um título.


E Lula, fingindo-se de indignado, irá para a reserva à espera de ser convocado de novo para jogar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mapa das facções em presídios brasileiros

Governo sanciona Lei de Diretrizes Orçamentárias 2018

Do G1 O governo sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018 com mais de 40 vetos. O texto, os vetos e as exposições de motivos que levaram a eles foram publicados na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União. A LDO de 2018 foi aprovada no mês passado pelo Congresso Nacional contemplando um rombo primário nas contas públicas de R$ 131,3 bilhões para 2018, dos quais R$ 129 bilhões somente para o governo federal. O conceito de déficit primário considera que as despesas serão maiores do que as receitas sem contar os gastos com o pagamento de juros da dívida pública. A LDO também traz uma estimativa de salário mínimo de R$ 979 para 2018, um aumento de 4,4% em relação ao salário mínimo em vigor neste ano, que é de R$ 937. Entre outros indicadores, a LDO prevê um crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% em 2018. A inflação estimada é de 4,5% e a taxa básica de juros deve ficar, segundo a proposta, em 9% na média do próximo ano. Mais de 40 v

Dólar opera em alta e bate R$ 4,40 pela 1ª vez na história

No ano, o avanço chega a quase 10%. Na quinta-feira, moeda dos EUA fechou vendida a R$ 4,3917. O dólar opera em alta nesta sexta-feira (21), batendo logo na abertura, pela primeira vez na história, o patamar de R$ 4,40. Às 10h52, a moeda norte-americana era negociada a R$ 4,3940 na venda, em alta de 0,05%. Na máxima até o momento chegou a R$ 4,4061.  Veja mais cotações . Já o dólar turismo era negociado a R$ 4,5934, sem considerar a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Na sessão anterior, o dólar encerrou o dia vendida a R$ 4,3917, em alta de 0,61%, marcando novo recorde nominal (sem considerar a inflação) de fechamento. Na máxima do dia, chegou a R$ 4,3982 – maior cotação nominal intradia até então, segundo dados do ValorPro. A marca de R$ 4,40 é o maior valor nominal já registrado. Considerando a inflação, no entanto, a maior cotação do dólar desde lançamento do Plano Real foi a atingida no final de 2002. Segundo a Economatica, com a correção