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Calero, o primeiro reportante do bem

Ação do ex-ministro estaria protegida pelo pacote anticorrupção

O Globo - Mara Bergamaschi
Na luta de boxe em que se transformou a votação do pacote anticorrupção no Congresso, Marcelo Calero, o ex-ministro da Cultura que catapultou o Iphan a órgão mais poderoso do país, seria o primeiro reportante do bem. O reportante é o modelo de cidadão lutador previsto na futura lei capaz de levar à lona o jeitinho brasileiro — que consagra, em maior ou menor grau, desvios de conduta.
Subvertendo a ordem, Calero inaugurou a lei antes mesmo que ela fosse votada no plenário da Câmara. Sua ação foi tão espetacularmente intempestiva que jogou o mundo político num futuro incerto e, ao mesmo tempo, congelou o presente em Brasília.
Perplexo, seu conterrâneo e interlocutor constante, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teve de esvaziar o ringue bem na hora em que a luta iria começar. De uma só vez, Calero golpeou três ministros — Geddel, que, nocauteado, caiu, Padilha e Grace Maria, da AGU —, além do próprio presidente Michel Temer.
Mas acertou também a maioria desesperada que costurou quinta-feira, no gabinete de Maia, a anistia para o caixa dois, desfigurando o conjunto de combate à corrupção apoiado por 2,5 milhões de assinaturas. A decisão de Calero de revelar à PF um crime, sem tomar parte nele — ou seja, ele não é um delator premiado —, enquadra-se na descrição do reportante do bem, apresentada no pacote do Ministério Público.
O reportante do bem, chamado de “dedo-duro” pelos parlamentares, estava marcado para cair fora na votação desta semana. Se as dez medidas do MP estivessem valendo, Calero seria mantido no cargo, pois teria a proteção do anonimato. E ainda algum tipo de recompensa.
Mas ele não obteve dos meios artístico e político sequer apoio moral: suas revelações, gravadas ou não, foram recebidas com desconfiança pela turma que ainda grita “Fora, Temer!”. E diminuídas pelos aliados do “Bora, Temer!” — que não enxergaram no episódio tráfico de influência.
Na terça-feira, com o país mobilizado, a luta anticorrupção continuará. No jogo entre Judiciário e Legislativo, veremos quem vencerá. E o Planalto? Ainda tonto, procura gelo para os jabs de Calero.

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