Ruy Castro - Folha de S.Paulo
Em seis meses como ministro da Cultura do governo de Michel Temer, Marcelo Calero foi hostilizado, agredido e chamado de golpista em vários eventos relacionados à sua pasta. Em todos, Calero foi calado por manifestantes e precisou ser protegido na saída. No Rio, nas imediações do Palácio Capanema, ocupado por ativistas, teve o carro oficial cercado pela multidão, os vidros socados e tinta vermelha despejada sobre a lataria.
Ironicamente, o homem que, por ser "golpista", sofreu essa violência está agora provocando, com suas denúncias, mais dano ao governo Temer do que todos os grupos que gritam "Fora Temer" pelo país. E o curioso é que, ao contrário de Chico Buarque, Sonia Braga, Letícia Sabatella e outros, Calero nunca votou em Temer. Votou em Aécio Neves — o qual, como senador, em vez de apoiar a investigação das denúncias de Calero, retribuiu recomendando que se investigasse o próprio Calero. "O homem mais forte é o que está mais só", já dizia um personagem de Ibsen.
As consequências do gesto de Calero não se limitarão ao episódio em que um político de segunda, habituado a fazer do Estado seu birô de negócios, como Geddel Vieira Lima, viu exposta uma de suas trampolinagens. Pior é o fato de que a mutreta parecia tão natural aos olhos de Temer — e isto num momento em que o Congresso manobra para se anistiar preventivamente face à delação premiada da Odebrecht.
Daí Temer, de repente, colocar-se de forma tão imperial contra a anistia ao caixa dois. Não fosse o tumor Geddel, teria continuado "neutro", a favor da tramoia de seus pares.
Os que hostilizaram Marcelo Calero ficam dispensados de lhe pedir desculpas. Mas poderiam refletir que, assim como um governo "ilegítimo" pode comportar um homem honesto, nada impede que um legítimo seja apinhado de pilantras
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