Vinicius Torres - Folha de S.Paulo
O governo Temer e os fugitivos da polícia no Congresso decidiram manter as taxas de juros no alto, baixando ainda mais o nível da política. Contribuem para prolongar a recessão.
Como assim? Governo e Congresso definem taxas de juros? Não propriamente. O patrocínio de lambanças colabora para disseminar a percepção de que a pinguela para o futuro, o governo Temer, corre o risco de se tornar inoperante. Que não consiga nem ao menos estabilizar um país em estado crítico.
Quanto maior o risco de o tumulto político criar mais desordem econômica, maiores as taxas de juros: maior o temor de emprestar e investir. É óbvio, mas não no mundo zumbi de Brasília.
Note-se que nem está em discussão o teor das lambanças, mas apenas seu preço. Observe-se ainda que "pinguela" foi o apelido dado por Fernando Henrique Cardoso ao governo, corruptela do nome do programa ultraliberal lançado por Michel Temer faz mais de um ano, o "Ponte para o Futuro".
As taxas de juros deram um pulo extra para cima desde o terço final de outubro, na verdade. Foi quando o Banco Central induziu os donos do dinheiro a desistir das apostas de desaperto monetário mais rápido. Ganharam apoio para flutuar na estratosfera com a eleição de Trump. A poluição que sobe de Brasília dá mais gás para os juros.
A poeira imunda pode baixar, desde que ministros e parlamentares parem de cavar túneis para escapar da Justiça. Desde que não causem mais revolta popular.
O sistema político está "falido" e "fedido", como disse ontem Renan Calheiros, expert no assunto. Mas, caso a fedentina não leve o povo para as ruas, o sistema talvez seja tolerado em sua forma zumbi operante, aprovando as reformas de consenso na elite.
Como disse FHC, é uma "pinguela", mas "é o que tem". "É o que temos" é o que se ouve de cada banqueiro e empresário maiores a quem se pede opinião sobre o governo.
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