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De cabeça para baixo

Ruy Castro - Folha de S.Paulo

A mulher e a filha do deputado Eduardo Cunha pediram para ser julgadas pelo STF, e não pela 13ª Vara Federal de Curitiba -leia-se juiz Sergio Moro. O ex-ministro da Comunicação Social Edinho Silva também pediu ao ministro Teori Zavascki que o inquérito aberto contra ele não seja mandado para Curitiba -aliás, se não for querer muito, ele preferiria que Teori levasse o recurso para julgamento na Segunda Turma do STF, da qual o ministro faz parte.
Vindos de patriotas tão remotos quanto improváveis, há vários pedidos de impeachment do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para apreciação do presidente do Senado, Renan Calheiros -este, por acaso, alvo de nove inquéritos na Lava Jato. Quatorze senadores, por sua vez, querem abertura de processo disciplinar contra o juiz Sergio Moro por "abuso de autoridade". O mesmo motivo pelo qual Lula quer processar o juiz, principalmente depois que suas trapalhadas com os famosos sítio e tríplex foram devolvidas a Moro pelo Supremo.
"O Brasil é de cabeça para baixo", disse Tom Jobim. "Os traficantes cheiram, as prostitutas gozam, e é só olhar o mapa para ver aquele país enorme tentando se equilibrar na pontinha onde fica o Chuí". A frase de Tom já se incorporou ao pensamento nacional, e o dia a dia insiste em ratificá-la. A ideia de que investigados pela Justiça se atrevam a escolher quem os investiga, ou que ameacem processar quem os processa, é só mais uma prova de que Tom tinha razão.
Outro exemplo: por que um acusado, com todas as evidências contra si, queimaria duas instâncias de julgamento com os juízes menores e escolheria depender apenas da instância final e irrecorrível, que é a do STF? Ora, porque o Brasil é de cabeça para baixo.


Sorte que, apesar de tantos, ainda há gente disposta a pô-lo de pé. 

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