Folha de S.Paulo – Walter Nunes
Marcelo Odebrecht segue uma rotina espartana dentro da carceragem da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Acorda antes das 6h, come barrinhas de cereal, faz exercícios físicos, toma um café da manhã mais reforçado e então se dedica a assuntos de sua delação.
Repete a sequência durante o dia: mais exercícios, mergulha nos processos, dá um intervalo para as refeições. Dorme após o "Jornal Nacional", que ouve porque o doleiro Alberto Youssef sobe o som da única TV da carceragem.
Passa 22 horas dentro do xadrez de 16 m². Tem direito a duas horas de banho de sol, mas usa o tempo para falar com seus advogados.
O cotidiano fez com que Marcelo ganhasse músculos e bom conhecimento do Código de Processo Penal. Há dias está só na cela.
Ao chegar pela segunda vez à superintendência, em fevereiro, Marcelo dividiu o xadrez com quatro traficantes de drogas. Depois, ficou com Alberto Youssef.
A defesa do empreiteiro não queria que a estadia na superintendência demorasse tanto. Logo no primeiro dia tentou transferi-lo de volta para o Complexo Médico Penal de Pinhais (CMP), onde cumpria pena com outros investigados da Lava Jato.
Os advogados afirmam que a estrutura da carceragem da PF traz "limitações aos contatos dos detidos com seus advogados", o que seria obstáculo ao exercício de defesa.
Moro indeferiu o pedido dizendo que detento "não tem o direito de escolher em que estabelecimento prisional prefere ficar preso".
TROFÉU
Dos 374 dias que passou atrás das grades, Marcelo morou 212 dias no Complexo Médico Penal de Pinhais.
Lá seus companheiros de xadrez eram os ex-subordinados Rogério Araújo e César Ramos Rocha. A disciplina que Marcelo impunha a eles —tudo tinha que estar minuciosamente arrumado, lençóis dobrados, materiais de higiene organizados— fez a cela ser batizada de Ditadura; o cubículo vizinho, de Alexandrino Alencar e Márcio Farias, também da Odebrecht, ganhou o apelido de Democracia.
No CMP, Marcelo podia circular livremente pela galeria onde ficam os presos da Lava Jato. Quando ia para o pátio, era sempre escoltado. A direção do presídio temia que fosse visto como troféu por outros presos numa rebelião.
O CMP tem a custódia de presos com distúrbios psiquiátricos e policiais flagrados cometendo crimes.
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