Folha de S.Paulo - Daniela Lima e Maria Dias
No momento em que o governo interino de Michel Temer vive sua primeira crise, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a procurar a cúpula do PMDB, em especial o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Alvo de uma ofensiva da Procuradoria-Geral da República, que pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) sua prisão, Renan recebeu nesta terça (7) um telefonema de "solidariedade" do petista. Lula ainda pediu que marcassem uma conversa pessoalmente nos próximos dias.
O petista falou com Renan durante rápida passagem por Brasília, na qual fez uma reunião com a presidente afastada, Dilma Rousseff.
Ele tinha ainda um último evento em sua agenda, de que decidiu, por estratégia política, declinar. Deveria se reunir com cerca de 25 senadores em um jantar na casa de Roberto Requião (PMDB-PR).
O encontro serviu para selar uma proposta que será levada formalmente a Dilma: a de que poderão salvá-la do impeachment em troca de que, reempossada, proponha um plebiscito para a população decidir se quer ou nãonovas eleições presidenciais.
O número de senadores que compareceram ao jantar é maior do que os 22 parlamentares que votaram contra o afastamento de Dilma na primeira fase do processo no Senado. Ela precisa, para escapar definitivamente da degola política, de 27 votos.
A proposta dos senadores prevê que Dilma passe a defender essa solução abertamente, ao lado de movimentos de esquerda. Segundo integrantes da cúpula do PT, Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), já aderiu à tese. João Pedro Stédile, comandante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), antes rechaçava a ideia, mas agora sinaliza repensar sua posição.
Lula é "simpático" à alternativa, mas sabe que Dilma não está convencida. O argumento que será usado para ela é o de que, se conseguir derrotar a proposta de novas eleições na consulta popular, reconquistaria a legitimidade para presidir o país.
Por isso, o ex-presidente voltou a fazer pontes com Renan. O senador sempre esteve no grupo oposto ao de Temer no PMDB. E, embora esteja convencido de que Dilma não tem condições de voltar ao comando do Planalto, tem ouvido a avaliação de que Temer é "frágil" e sem musculatura para superar a crise.
Isso faz de Renan um aliado importante na articulação por novas eleições. Lula disse a aliados que não iria ao jantar para não melindrar o presidente do Senado outros nomes do PMDB citados nos pedidos de prisão. A preocupação dele é que sua presença entre opositores sugerisse uma "tomada de lado" sobre a situação do presidente do Senado.
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