Ricardo Miranda – Blog Os Divergentes
Num país onde a agenda nacional foi substituída por uma luta fratricida por sobrevivência política, e onde a convivência entre poderes lembra mais um UFC no topo da pirâmide, 2017 não vai terminar. Até porque nem 2016 terminou ainda. Nesta mesma época, no ano passado – puxe pela memória -, todo mundo torcia por uma única coisa: para 2017 chegar logo. Não era possível um outro ano ser tão infernal. Quanta inocência…
Naquele momento, em meio a uma crise entre poderes, o Supremo, convencido pelo Planalto, decidiu manter o réu Renan Calheiros na Presidência do Senado. A Corte Suprema, iniciando uma lenta desmoralização, fez vista grossa para a desobediência à liminar do ministro Marco Aurélio Mello, que ordenava o imediato afastamento de Renan do posto. Algum magistrado incauto, consumido em processos – há incautos ali? – podia até não ter percebido, mas era o desenho de uma aliança contra os super poderes do Ministério Público e o desmonte da classe política. Para o Planalto, nem era preciso mais conspirar, liberando dessas funções o líder Romero Jucá. Começava o derretimento da Lava Jato e o enquadramento da Polícia Federal, agora sob nova direção, colocando três anos de trabalho no funil de uma única questão: inviabilizar a candidatura de Lula ou não.
Ali, nos estertores de 2016, a Reforma da Previdência ainda engatinhava, mas o Congresso já tinha se tornado força auxiliar do Executivo, aprovando a chamada PEC do Teto, então prioridade legislativa do governo, assumido sete meses antes por Temer. Se 2016 já foi tarde – ano do impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff, iniciado em dezembro do ano anterior, pelo hoje presidiário Eduardo Cunha -, 2017 se encerra com ares de segundo capítulo de uma trilogia, a ser encerrada com as eleições de 2018.
Este ano, não vamos esquecer, reformas à parte, o Congresso enterrou com solenidades as duas denúncias contra o presidente – e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco. O resto é confete e serpentina. Em 2016, o país tinha um presidente com cara de interino. Em 2017, ele tomou posse atropelando os demais poderes. Em 2018, quer fazer seu sucessor. Que evolução!
No final de 2018, mais ou menos nessa época, enquanto planejamos a festa natalina com a família – desde já feliz Natal e Próspero e Democrático Ano Novo a todos! -, já saberemos se o sentimento que vivemos hoje se repetirá. Dependendo de quem for escolhido pelo povo brasileiro, nas sagradas urnas de outubro, poderemos nos reencontrar com o país que queremos em 2019 ou percebermos que entramos numa espécie de maldição da marmota, como naquele filme em que o sujeito fica preso numa fenda do tempo, condenado a reviver o mesmo dia até que mude suas atitudes.
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