Pular para o conteúdo principal

A crise de representação: o palhaço falou sério

Rudolfo Lago – Blog Os Divergentes

Há quem diga que Tiririca (PR-SP) só quis valorizar seu passe e voltará atrás. Há quem argumente que ele foi eleito dentro das regras – as escritas e as não escritas – que agora critica. Quem tiver acesso aos recônditos da alma de Tiririca que escarafunche por lá as suas motivações. Mas, independentemente delas, o palhaço, no seu primeiro, e talvez único, discurso, falou sério. Especialmente porque sua peça resume um dos grandes problemas políticos vividos não apenas no Brasil mas em todo o mundo: a atual crise na representatividade política.
Quando se candidatou deputado, Tiririca disse na sua campanha que não sabia o que “fazia um deputado”. Pedia o voto dizendo que, chegando lá, contaria para todo mundo. A piadinha tinha um triste fundo de verdade. A maioria das pessoas não sabe mesmo o que fazem seus representantes no Legislativo. E, quando sabem, geralmente se frustram muito porque, cada dia mais, o que fazem vereadores, deputados e senadores fica muito longe da sua expectativa.
O admirável mundo novo da internet e das redes sociais acelerou imensamente o tempo no qual as pessoas esperam pela resposta às suas demandas e seus anseios. Na verdade, praticamente tornou instantânea a ânsia por essas respostas. E os Congressos têm ritos que nada têm a ver com essa velocidade. Eis aí o primeiro problema.
O segundo e maior problema é a total falta de sintonia entre a pauta de interesses particulares da elite política brasileira e a  que espera a sociedade. É aquela famosa frase do deputado Sergio Moraes (PTB-RS) que, em determinado momento, disse: “Estou me lixando para a opinião pública”.
Tiririca chegou ao Congresso por um caminho totalmente inserido na pauta dos interesses particulares da elite política, e não das aspirações da sociedade. Era o velho truque da celebridade que entra na disputa para puxar votos para os políticos tradicionais. No voto proporcional, o candidato atinge o coeficiente eleitoral e os votos a mais que conseguir vão para os demais candidatos do partido ou da coligação. Assim, Tiririca ajudou a eleger, por exemplo, o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), condenado no julgamento do mensalão.
Eleito, Tiririca até que se esforçou para fazer bem seu trabalho como deputado. Tem sido o parlamentar mais assíduo da Câmara, sem nenhuma falta. Orientou suas propostas para atender à população circense, sua origem. Propôs, por exemplo, um projeto que garante vaga na escola pública às crianças de circo na cidade em que a trupe estiver se exibindo.
Mas Tiririca descobriu que deputados fazem outras coisas. Primeiro: muitas vezes não conseguem garantir que suas propostas entrem em pauta, muito menos que sejam aprovadas. E ficam forçados a seguir uma rotina que inclui fisiologismo, compadrios e corrupção. Se não dele, Tiririca, exatamente, mas dos seus colegas de bancada e de plenário.


Tiririca provavelmente não é um santo. Talvez nem seja mesmo alguém bem intencionado. Mas, como se disse lá em cima, quem tiver acesso à sua alma que busque lá as suas motivações. É, porém, alguém que não sabia o que fazia um deputado. E que, ao descobrir, sentiu-se frustrado por não ser exatamente o que desejava fazer. E que, provavelmente, não é também o que anseia a sociedade. E essa distância vai parecendo cada vez maior. É, Tiririca: pior do que está, fica…
http://www.blogdomagno.com.br/?pagina=1

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mapa das facções em presídios brasileiros

Governo sanciona Lei de Diretrizes Orçamentárias 2018

Do G1 O governo sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018 com mais de 40 vetos. O texto, os vetos e as exposições de motivos que levaram a eles foram publicados na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União. A LDO de 2018 foi aprovada no mês passado pelo Congresso Nacional contemplando um rombo primário nas contas públicas de R$ 131,3 bilhões para 2018, dos quais R$ 129 bilhões somente para o governo federal. O conceito de déficit primário considera que as despesas serão maiores do que as receitas sem contar os gastos com o pagamento de juros da dívida pública. A LDO também traz uma estimativa de salário mínimo de R$ 979 para 2018, um aumento de 4,4% em relação ao salário mínimo em vigor neste ano, que é de R$ 937. Entre outros indicadores, a LDO prevê um crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% em 2018. A inflação estimada é de 4,5% e a taxa básica de juros deve ficar, segundo a proposta, em 9% na média do próximo ano. Mais de 40 v

Dólar opera em alta e bate R$ 4,40 pela 1ª vez na história

No ano, o avanço chega a quase 10%. Na quinta-feira, moeda dos EUA fechou vendida a R$ 4,3917. O dólar opera em alta nesta sexta-feira (21), batendo logo na abertura, pela primeira vez na história, o patamar de R$ 4,40. Às 10h52, a moeda norte-americana era negociada a R$ 4,3940 na venda, em alta de 0,05%. Na máxima até o momento chegou a R$ 4,4061.  Veja mais cotações . Já o dólar turismo era negociado a R$ 4,5934, sem considerar a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Na sessão anterior, o dólar encerrou o dia vendida a R$ 4,3917, em alta de 0,61%, marcando novo recorde nominal (sem considerar a inflação) de fechamento. Na máxima do dia, chegou a R$ 4,3982 – maior cotação nominal intradia até então, segundo dados do ValorPro. A marca de R$ 4,40 é o maior valor nominal já registrado. Considerando a inflação, no entanto, a maior cotação do dólar desde lançamento do Plano Real foi a atingida no final de 2002. Segundo a Economatica, com a correção