Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Duas perguntas rondam a sexta candidatura de Lula à Presidência. A primeira será respondida pela Justiça: ele poderá ou não concorrer? A segunda deve ser feita ao próprio petista: se o seu favoritismo nas pesquisas se confirmar, qual Lula vai governar o país?
O ex-presidente tem dado pistas contraditórias. Em maio, ele subiu o tom dos ataques à Lava Jato e deixou um cheiro de radicalização no ar: "Se eles não me prenderem logo, quem sabe um dia eu mando prendê-los pelas mentiras que eles contam".
A frase soou como uma ameaça autoritária, já que nas democracias só juízes mandam prender. Na semana seguinte, o petista disse ter usado apenas uma "força de expressão".
Apesar do recuo, o tom de confronto persistiu. Em discursos invocados, o ex-presidente distribuiu bordoadas na imprensa, na elite e nos adversários. Parecia uma receita para espantar de vez a classe média, que já vem se distanciando do PT.
Nas últimas semanas, Lula começou a ensaiar uma nova guinada. No dia 4, ele ressuscitou o figurino moderado da campanha de 2002. "Quero voltar Lulinha paz e amor", disse.
Nesta quarta-feira, o petista usou uma rara entrevista coletiva para reforçar a mensagem. Ele prometeu combater o discurso de ódio e "pacificar este país". "Não vou ser mais radical. Estão dizendo que vou ser mais radical. Eu não tenho cara de radical, nem o radicalismo fica bem em mim. Eu tô mais sabido", afirmou.
Como o próprio ex-presidente já se definiu como uma "metamorfose ambulante", convém esperar. Ainda parece cedo para saber qual Lula pretende subir ao palanque em 2018.
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Henrique Meirelles topa ser o candidato do governo, mas está longe de ser bobo. O ministro falou por quase dez minutos na propaganda do PSD. Apresentou o currículo, vendeu otimismo e desejou feliz Natal aos eleitores, mas não citou a palavra "Temer" uma única vez.
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