Na cultura Odebrecht, mais importante do que ter poder sobre o grupo é preservar o grupo
Folha de S.Paulo – Alexa Salomão e Ricardo Balthazar
Não será fácil para Marcelo Odebrecht resgatar poder e influência sobre o grupo. Não apenas porque a sua pena o proíbe de assumir cargo de comando ou até dar palpite na gestão, mas porque as mudanças internas foram muitas durante a sua ausência. Marcelo não deixou de ser admirado e respeitado pela maioria. A sua disciplina na prisão até causa certo orgulho.
No entanto, o processo de decisão é outro. Desde a sua prisão e a confissão organizada dos executivos, um dos projetos que mais tomaram tempo e dedicação na Odebrecht foi criar mecanismos que submetam a organização a escrutínio permanente. As informações são colegiadas. Houve dança das cadeiras também. Os aliados mais fortes estão isolados e são vigiados por monitores externos. Outro limitador é a situação financeira. Apesar de a fase crítica ter passado, a situação ainda é delicada.
Se Marcelo encampasse uma disputa entre acionistas para ampliar o poder de influência no conselho, por exemplo, poderia prejudicar a recuperação -e, pior, atrapalhar o desfecho do acordo de leniência, que vai bem e tende a ser concluído em janeiro.
O grupo começou a respirar após se desfazer de alguns negócios. O fundo canadense Brookfield, com outros investidores, por exemplo, ficou com os 70% que pertenciam ao grupo na Odebrecht Ambiental, da área de concessões de saneamento.
Tem feito, porém, um grande esforço para reestruturar a dívida da Odebrecht Óleo e Gás, o braço que atua no setor de petróleo e tem credores até no exterior. A construtora, o coração do grupo, ainda está "machucada", para usar um termo de pessoas próximas à empresa.
Tem dificuldade para recompor a carteira de obras, não apenas porque a crise econômica minguou a oferta de projetos, mas porque o seu envolvimento na Lava Jato foi mais profundo que o de outras empreiteiras e ela encontra imensa resistência dos bancos para conseguir financiamentos.
Existe entendimento de que um sócio pode aliviar as desconfianças, e a empresa busca um parceiro. Porém, ainda que tudo dê certo, até restabelecer uma carteira de obras e um fluxo de caixa que pareçam convincentes para os bancos, vai levar tempo. Recuperaria fôlego só em 2019, na visão de um executivo que deixou o grupo.
Há também controvérsias em relação ao futuro da petroquímica Braskem, o bem mais precioso do companhia. Suas ações foram dadas em garantia à renegociação de dívidas com os bancos -e eles ainda podem pedir a venda dela.
A percepção é que Marcelo vai ponderar tudo isso porque, na cultura Odebrecht, mais importante do que ter poder sobre o grupo é preservar o grupo.
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