Marcos Troyjo: “Muitas decisões estratégicas que se faziam anteriormente, mudaram e se refletem até na questão geopolítica” O que a China investe hoje em desenvolvimento de fontes alternativas de energia representa muito mais do que é feito por grandes países do mundo. A questão é que os chineses decidiram diminuir importações de combustível fóssil e encontraram nas outras fontes um ‘filão’ de inúmeras possibilidades e oportunidades. O assunto foi abordado na palestra magna desta quinta-feira (17), sobre energia, abrindo as atividades do terceiro dia da 72ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), que acontece na capital cearense. |
O palestrante, professor Marcos Troyjo, economista, cientista político e diretor do Centro de Estudos sobre Governança Global da Universidade de Columbia, traçou um panorama das megatendências no mundo e os desafios relacionados à questão energética, destacando evoluções e também retrocessos ocorridos no Brasil. A palestra foi mediada pela conselheira federal, eng. eletric. e de seg. trab. Ana Constantina Sarmento de Azevedo, a primeira mulher a assumir a vice-presidência do Confea; além da participação, como debatedores, de Jurandir Picanço, especialista em Energia e coordenador do Núcleo de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec); e de Renato Walter Rolim Ribeiro, engenheiro eletricista e secretário-adjunto de Infraestrutura, Energia, Minas e Telecomunicações do Ceará (Seinfra).
Vice-presidente do Confea, eng. eletric. Ana Constantina, foi moderadora do debate
Marcos Troyjo alertou os países que construíram sua prosperidade baseados na extração e comercialização do combustível fóssil, como Venezuela e Rússia, pois sofrerão impacto diante da crescente utilização de fontes de energia alternativas e não convencionais, citando como exemplo o gás de xisto. “Houston, nos Estados Unidos, está se tornando uma nova ‘Meca’, a capital do gás de xisto”, comentou. “Os argentinos voltaram a ter confiança em relação ao seu futuro porque no Sul daquele país encontram-se algumas das maiores reservas de gás de xisto do mundo. Porém, eles não têm nem engenharia e nem capital para extrair esse recurso do solo, e ao lado dessa constatação, percebe-se a ‘onipresença’ dos chineses na Argentina”, salientou.
O gás de xisto, também conhecido como gás não convencional, tem assegurado nos últimos anos um grande número de defensores, que acreditam na sua utilização para a redução de custos. Conforme sites especializados, o gás é encontrado em uma rocha porosa de mesmo nome e se encontra comprimido em pequenos espaços dentro da rocha.
Brasil
Em relação ao Brasil, Troyjo lembrou um dos grandes programas bem-sucedidos de substituição em larga escala dos derivados de petróleo, o ProÁlcool, desenvolvido para diminuir a dependência do petróleo adquirido no exterior e, consequentemente, evitando que o Brasil ficasse vulnerável aos choques de preços dos barris de petróleo. “Foi um programa que possibilitou que o Brasil chegasse ao século 21 com oito em cada dez veículos sustentados por outro tipo de motor movido a combustível Flex (etanol ou gasolina)”.
Entretanto, apesar de ter avançado em determinados campos, o Brasil ainda permanece “sem evolução” em outras áreas. “Quando sediamos a Copa do Mundo em 1950, a renda per capita do brasileiro equivalia a 1/5 da de um norte-americano; em 1970, quando o Brasil foi campeão no México, permanecia a mesma diferença; no ano passado, quando ocorreu a Copa do Mundo em nosso país, a renda per capita do brasileiro continua sendo 1/5 da renda per capita de um norte-americano, ou seja, ao longo de um período grande de tempo, nós não fomos capazes de melhorar a nossa competitividade, que viesse a encurtar a distância para países como os Estados Unidos, que lideram o mundo do ponto de vista econômico e tecnológico”, informou.
Para Troyjo, energia, água e inovação são temas que acontecem dentro de um quadro maior, sendo considerados como “tendências globais”. “Para tomarmos decisões específicas, precisamos saber que medidas as grandes tendências dos próximos 20 anos vão tornar nossas credenciais melhores ou mais difíceis para conduzirmos o nosso desenvolvimento”, disse.
Do ponto de vista energético, na avaliação do economista, o cenário mudou muito, pois uma série de tecnologias de energia passou a se tornar “reais alternativas” de desenvolvimento nas últimas décadas. “Muitas decisões estratégicas que se faziam anteriormente mudaram, porque a crise energética teve reflexos; hoje, de cada dez barris de petróleo que os EUA importam, apenas um vem do Oriente Médio; de cada dez que a China importa, apenas a metade vem dessa região do planeta; então, aqueles países como Irã, Iraque, Arábia Saudita, para quem eles passaram a ser mais estratégicos”, levantou o questionamento para a plateia. “Isso muda não apenas o papel energético, mas também a questão geopolítica”, completou.
Debates
Os debatedores discutiram questões relacionadas à adoção de políticas equivocadas que prejudicaram o desenvolvimento de projeto voltado às energias renováveis. “O Nordeste detém o maior potencial de energia eólica do país, e é preciso transformar esses recursos naturais em oportunidades competitivas”, comentou o engenheiro eletricista Renato Walter Roli Ribeiro, que atuou como debatedor na palestra.
Para o conselheiro Dario Gutierrez, do Crea-AM, “o tema de hoje mostrou uma excelente visão da geopolítica global, mudanças e tendências, e como o mundo tem evoluído na substituição dos combustíveis fósseis”. Um dos pontos que chamou a atenção do conselheiro foi o investimento pesado feito pela China em energia renovável. “Para diminuir a dependência de combustível fóssil, a tendência com as novas tecnologias é a diminuição do preço de petróleo e até questionamentos quanto ao nosso pré-sal. Precisamos fomentar a inovação, por meio da competência, do empreendedorismo e atitudes, e isso não pode ser feito somente a partir de uma iniciativa do Estado”, completou.
Acyane do ValleEquipe de Comunicação Confea/Crea-AMRevisão: Lidiane BarbosaFotos: João Batista FotografiasBanco de imagens: João Anastácio e Paula Moreira
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