Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Até outro dia, um pesadelo perturbava o sono da presidente Dilma Rousseff. Em 15 de novembro, o PMDB faria um grande congresso para proclamar o rompimento com o governo e o apoio à abertura de um processo de impeachment.
O roteiro, traçado por aliados do vice Michel Temer, tem pouco a ver com o que acontecerá nesta terça em Brasília. O evento não cairá no feriado nacional, não será um congresso e não marcará uma ruptura. No que depender de alguns peemedebistas, não será nem grande.
O diretório do Rio, por exemplo, adotou a tática do boicote. O governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o deputado Leonardo Picciani, líder do partido na Câmara, não vão dar as caras. Os três defendem a permanência de Dilma.
O deputado Eduardo Cunha deve aparecer, embora a cúpula do PMDB preferisse o contrário. Para Temer, uma foto ao lado do vendedor de carne moída não será exatamente um reforço na imagem.
O congresso do PMDB foi esvaziado porque o balão do impeachment, inflado por Cunha, murchou junto com o deputado. Sem a perspectiva de um governo Temer, restou ao partido promover um encontro da Fundação Ulysses Guimarães.
"Se fosse um congresso, ia ter pauleira. Como virou um encontro da fundação, não vamos decidir nada. A ideia é discutir um programa para o país", diz o senador Romero Jucá.
A ameaça de rompimento também perdeu força porque o PMDB aproveitou a crise para exigir o de sempre: mais cargos e ministérios.
A ala oposicionista do partido reconhece que o plano do impeachment ficou distante. Mesmo assim, há quem aposte no discurso do vice fará hoje para provocar mais alguma turbulência para Dilma.
"Toda vez que o Temer fala, cria uma crise danada com os petistas. Se ele discursa é porque está conspirando, e se fica calado é porque quer dar golpe", diverte-se o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
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