“Na história recente da nossa pátria houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois nos deparamos com a ação penal 470 [mensalão] e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes. Não passarão sobre a Constituição do Brasil”.
Esta declaração, da ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, ao comentar a prisão do senador Delcídio Amaral, abre um clarão na direção de que, finalmente, o País está sendo passado à limpo, e que a decência está vencendo a imoralidade, pondo abaixo o lodo da corrupção que o PT espalhou em todas as entranhas do poder. Segundo a Secretaria-Geral da Mesa do Senado, Delcídio é o primeiro senador em exercício preso desde a Constituição de 1988.
Segundo a Procuradoria-Geral da República relatou, em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal, ele ofereceu R$ 50 mil mensais ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para que ele não fechasse acordo de delação premiada ou, se o fizesse, não o citasse. Segundo a Procuradoria, Delcídio também prometeu a Cerveró influir em julgamentos no STF para ajudá-lo. O senador disse que falaria com o vice-presidente da República, Michel Temer, e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) para influenciar a Corte.
“Estamos todos perplexos. É um constrangimento generalizado”, reagiu o senador Paulo Paim (PT-RS). As acusações contra o líder do governo são gravíssimas. A Constituição diz que o Senado tem que se reunir para deliberar sobre o tema. Ao receber os autos e analisar as provas, que são contundentes, o Senado não pode obstruir qualquer investigação por parte da Justiça.
Antes de ingressar na política, Delcidio trabalhou como diretor da Shell na Holanda. Ele também foi presidente da Eletrosul e do Conselho de Administração da Companhia Vale do Rio Doce. Durante o governo Itamar Franco, foi secretário executivo do Ministério de Minas e Energia. Em setembro de 1994, foi nomeado ministro de Minas e Energia, cargo que ocupou até o fim do governo Itamar.
Logo após deixar a pasta, Delcídio do Amaral assumiu a diretoria de Gás e Energia da Petrobrás no Governo Fernando Henrique Cardoso. Em 1998, filiou-se ao PSDB, onde ficou até 2001. No ano em que se desfiliou do PSDB, Delcídio migrou para o PT, partido pelo qual elegeu-se senador em 2002 e em 2010. No Senado, o petista preside a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
O senador petista ganhou projeção nacional ao presidir, em 2005, a CPI dos Correios no Congresso Nacional. Segundo a Procuradoria, Delcídio também prometeu a Cerveró influir em julgamentos no STF para ajudá-lo. O senador disse que falaria com o vice-presidente da República, Michel Temer, e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) para influenciar a Corte.
O líder do Governo foi citado pela primeira vez na Lava Jato na delação do lobista conhecido como Fernando Baiano. No depoimento, Baiano disse que Delcídio recebeu US$ 1,5 milhão de dólares de propina pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Em outubro, Delcídio havia negado o teor da denúncia de Baiano e disse que a citação a seu nome era "lamentável".
O Governo teme que Cerveró possa ligar Dilma diretamente à compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), que deu prejuízo à Petrobras na época em que ela presidia o Conselho de Administração da estatal. No início de 2014, Cerveró chegou a ameaçar o envolvimento da presidente ao dizer que ela tinha conhecimento de todos os detalhes da compra da refinaria.
Na ocasião, Dilma divulgou uma nota na qual afirmou que a decisão do conselho foi tomada com base em um parecer "falho" elaborado pela área que era de responsabilidade de Cerveró. O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, chegou a dizer que Dilma tinha conhecimento de toda a operação, mas, depois, Cerveró voltou atrás e fez media training, orientado pela Petrobras, para adequar sua fala à CPI da Petrobras que funcionava no Congresso.
Delcídio do Amaral, então, à época, foi escalado para monitorar pessoalmente Nestor Cerveró, já que era muito próximo ao ex-diretor da Petrobras. Delcídio revelou que Cerveró também era próximo ao PMDB e ao presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). A indicação de Cerveró tinha aval de setores do PT e do PMDB.
Além disso, há preocupação no governo com o risco sistêmico no setor financeiro por conta da queda vertiginosa das ações do BTG Pactual após a prisão do banqueiro André Esteves. Entre parlamentares que acompanham o episódio, a avaliação é que André se envolveu diretamente na operação para evitar a delação de Nestor Cerveró em razão da compra, pelo BTG, de um controle de poços da Petrobras na África. A CPI da Petrobras constatou que a operação gerou prejuízo à estatal.
VIOLAÇÃO JURÍDICA- Um dos petistas que passara, ontem, pela liderança do Governo no Senado, para sentir o clima da repercussão da prisão do senador Delcídio Amaral foi o deputado e advogado Wadih Damous (RJ), que afirmou: "É um cenário preocupante e de violação da ordem jurídica. Está se produzindo uma situação de insegurança jurídica no País". Para ele, a prisão de Delcídio é "aparentemente inconstitucional" e, com a medida, o STF acabou criando uma nova modalidade de flagrante, classificado por ele de "flagrante permanente".
Comentários
Postar um comentário